Mostrando postagens com marcador Patologia das Construções. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Patologia das Construções. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Defeitos em Edifícios

QUAIS SÃO AS CAUSAS ? QUEM É RESPONSÁVEL ? COMO REFORMAR ?

Para quem mora em edifícios (residenciais ou comerciais), não é novidade: vira e mexe, lá vem mais uma quantia extra, adicionada à taxa de condomínio, por conta de alguma reforma.

São despesas emergenciais (ou aprovadas em Assembléia) para tentar eliminar problemas - às vezes crônicos - de trincas, vazamentos, infiltrações sobre garagens, queda de ladrilhos externos, bolores em dormitórios, refluxos em ralos, odores fétidos, danos em revestimentos ou pinturas, pisos soltos, corrosões em armaduras estruturais, etc.

A estória começa quando extinto o prazo de garantia legal e a construtora se despede, definitivamente, do prédio. Embora a responsabilidade da empresa, por vícios ocultos, ainda possa ser invocada (questão e ser examinada por advogado experiente), o síndico, pressionado por reclamações dos condôminos - e com a melhor boa fé do mundo -, acaba contratando reformas sem dispor de exatos diagnósticos dos danos existentes. A "solução" do problema costuma nascer de inúmeros palpites e "achismos" – gerados no meio dos próprios moradores -, dentre os quais se escolhe o que parece mais convincente; ou, apenas, menos dispendioso.

Diagnósticos "infalíveis" são apresentados, também, por alguns prestadores de serviço pouco responsáveis, que oferecem reformas aparentemente baratas, sem respaldo técnico consistente ou real conhecimento do prédio, apenas movidos pelo interesse em "pegar o serviço". São, via de regra, pessoas inabilitadas, sem estrutura profissional ou empresarial para: A) Executar trabalhos realmente qualificados; B) Responder pela eficácia duradoura da reforma; C) Arcar com eventuais riscos, típicos desses trabalhos, como acidentes, danos a terceiros, dívidas fiscais ou trabalhistas. Assim, o Condomínio fica sujeito a transformar-se, "da noite para o dia", em réu de ações judiciais ou em arrimo de família, já que os citados "especialistas" costumam envolver, nessas empreitadas, alguns parentes ou vizinhos, sem qualquer prática, habilitação ou noções de segurança. Como se percebe, não vale a pena correr o risco.

Veja-se, por exemplo, reformas em impermeabilizações: os insucessos costumam ser freqüentes e as perdas - financeiras - muito elevadas. Motivos: PRIMEIRO: Raramente há que se "trocar a manta", como acreditam os leigos e se apressam a recomendar os chamados "especialistas"( na ampla maioria dos casos a chuva entra pelas periferias – muros e torre predial – infiltrando-se SOB a impermeabilização existente, que não está perfurada ! ). SEGUNDO: Mesmo se comprovada esta rara necessidade, somente empresas habilitadas e compostas por profissionais experientes podem assumir responsabilidade por adequado projeto de execução e garantias pelos processos e produtos envolvidos. Os demais, tanto os oportunistas "biscateiros" como os de simples má-fé ( atenção !! ) limitam-se a garantir, apenas A MANTA , por 5 anos (garantia comum, dada por todo e qualquer fabricante), como se o produto respondesse, sozinho, pelo processo de aplicação e pela eficácia do serviço. Se esta for a única garantia constante da proposta (ou do contrato), restará ao condomínio - quando as infiltrações retornarem - assumir a própria ingenuidade e ir "reclamar com o bispo" ...

"AUTOMEDICAÇÃO" PREDIAL

Erros, em manutenções ou reformas de prédios, são semelhantes a danos causados pela automedicação (vício típico do brasileiro), em casos de enfermidade. Ao medicar nossa família sem prévia consulta a um clínico geral, não temos, obviamente, a intenção de errar ( leia-se: agravar a doença, provocar invalidez, matar, etc ); apesar disto, assumimos o risco de fazê-lo; e bem antes do que imaginamos. E, quando "der uma zebra", de que adiantará xingar o balconista da farmácia ? ; ou o fabricante do remédio ? ; ou, quem sabe, a vizinha, que "deu a receita" ?..

Ora, se jogamos, tão perigosamente, com a própria saúde e com a vida dos nossos familiares, não surpreende que sejamos tão "sabidos" e auto-suficientes quando se trata da "saúde" ou da integridade física de um "simples edifício". Acontece que os chamados vícios construtivos - e de manutenção - costumam cobrar muito caro ( e por vária vezes seguidas ) ...

É preciso, portanto, mudar a abordagem: administradores prediais (pessoas físicas ou jurídicas) e os próprios condôminos devem zelar para que serviços de reparos sejam efetuados somente depois de definidas as responsabilidades civis, formulados corretos diagnósticos técnicos e elaboradas detalhadas especificações; bem como submetidos à previa seleção (cadastro e referências) de empreiteiras, tomadas de preços, contratos cuidadosamente elaborados e atenta fiscalização. Para tanto, deve-se consultar, nos momentos oportunos, engenheiros ou arquitetos, com referências que comprovem amplas e sólidas experiências profissionais.

Por Sylvio Nogueira

Sylvio Nogueira é arquiteto, formado em 1966, bolsista do governo alemão (Technische Hochschule Stuttgart), ex-professor universitário (PUC/PR-Tecnologia das Construções) e perito em defeitos da construção civil, com larga experiência na elaboração e coordenação de projetos, supervisões de obras (Brasil, Paraguay e Bolívia), laudos, perícias e assistências técnicas em ações judiciais, envolvendo condomínios (ou proprietários individuais) e empresas construtoras. Presta, também, consultorias para tomadas de preços, minutas de contrato e fiscalizações de reformas. A primeira visita ao cliente é gratuita (somente para imóvel situado em Curitiba), destinando-se à exibição de trabalhos anteriormente elaborados, referências de clientes atendidos e coleta de dados para apresentação da proposta de honorários. Atendimentos no interior, no litoral e em outros Estados, serão agendados segundo as urgências dos problemas prediais envolvidos, deslocamentos e hospedagens.
Fones: (0XX41) 233-3161 / 323-5141 CURITIBA (PR)
E-mail: snogueira@bbs2.sul.com.br

Umidade ascendente

São muitos os adquirentes de imóveis que sofrem (e construtores que recebem reclamações) por pulverulências de revestimentos em faixas inferiores de paredes térreas. A causa mais freqüente, desse dano, está vinculada ao fenômeno chamado umidade ascendente, sobre o qual é possível comentar :

Poucos construtores, professores e pesquisadores – hoje vinculados a obras civis convencionais – já ouviram falar de "papelão alcatroado"; e, dentre aqueles que ouviram, a esmagadora maioria está convicta de que se tratava, apenas, de "uma forma, muito antiga, de impermeabilizar vigas-baldrame".

Baseados nessa enganosa "certeza", muitos arquitetos, engenheiros, construtores, mestres-de-obras, etc, abandonaram aquele "idoso produto", passando a besuntar faixas superiores de baldrames com emulsões asfálticas (ou acrílicas), pois tal procedimento lhes pareceu "mais lógico", "mais prático" ou "mais moderno"...

Sucede, contudo, que estamos presenciando, há décadas, um flagrante e constrangedor equívoco técnico, cujas conseqüências têm sido suportadas por legiões de leigos - e indefesos - adquirentes de imóveis, e cujas conseqüências abrangem formações de fungos, recintos insalubres, alem de intermináveis tentativas de reparos, perícias técnicas e/ou demandas judiciais.

Com efeito, vejamos :

1 O concreto – sabidamente poroso – deve ser obvia e adequadamente impermeabilizado, contra a umidade do solo, seja por adição de densificadores, hidrófugos de massa ou por quaisquer outros processos assemelhados.

2 Ocorre que o literalmente banido papelão alcatroado desempenhava funções únicas, impossíveis de ser substituídas por emulsões, asfálticas ou sintéticas, e quaisquer outras películas selantes; de fato, cortado segundo largura folgadamente superior à do baldrame, o "esquecido" cartão sobrava para os dois lados, a saber:

2.1 Para o exterior: formando dente inclinado (apoiado em ripa chanfrada), que servia de gabarito ao emboço, que operava, depois, como pingadeira pluvial;

2.2 Para o interior: aba de 4 ou 5 centímetros, provisoriamente dobrada, para cima, até o lançamento do lastro; esta dobra servia "APENAS", para retornar à horizontal – antes do lançamento do contrapiso – cobrindo (vedando) a interface baldrame x lastro, onde surgem, fatalmente, fissuras capilares por retração deste último.

3 Ora, a umidade retida no solo (seja pelo perfil do terreno e suas vizinhanças, seja por drenagem insuficiente, etc.) tende a ascender pelas interfaces desprotegidas e pelas paredes (tijolos, chapisco, emboço, reboco), gerando pulverulências em argamassas e ruínas em pinturas (tinta acrílica sofre bolhas).

Como se vê, a construção civil urbana brasileira ainda não se deu conta de que trocou um produto comprovadamente eficaz (e baratíssimo !) por emulsões vedantes literalmente inúteis (e bem mais caras). A prática em patologias construtivas revela que os diagnósticos se formam, quase sempre, a partir do exame de geometrias ou de procedimentos tradicionais faltantes, com realce para aqueles atropelados (esquecidos) pelo distanciamento teórico das cátedras acadêmicas e pela flagrante desinformação técnica hoje observada nos canteiros de obras.

Por Sylvio Rocha Nogueira

Sylvio Rocha Nogueira - Arquiteto CREA 347-D/RJ (UFRJ / 1966)
Perito em patologias da construção civil. Ex- professor universitário (PUC/PR)
Ex-bolsista, do DAAD, junto à Technische Hochschule Stuttgart / Alemanha.
Escritório e domicilio em Curitiba-PR. E-mail: snogueira@bbs2.sul.com.br