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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Como orçar construção de cisternas

Veja passo-a-passo como calcular as quantidades dos reservatórios inferior e superior de uma edificação

Na Editora PINI, quando somos solicitados a fazer um estudo de custo de uma determinada obra, é comum recebermos os projetos preliminares de arquitetura apenas com as plantas baixas dos pavimentos-tipo, térreo etc. Veja como estimar as quantidades dos reservatórios somente com esses dados.



1 Calcular a população estimada da edificação (pop). Para tal, multiplique a quantidade de dormitórios total da edificação por dois, ou seja, dois habitantes por quarto.

Pop = quantidade de quartos x 2


2 Calcular o volume de água necessário dos reservatórios (vol) adotando um consumo diário de 180 l/pessoa/dia ou (0,18 m3/pessoa/dia) e cinco dias de reserva.

Vol = Pop x 0,18 x 5 (assim, obtém-se o volume total em metros cúbicos)


3 Como referência serão adotados reservatórios quadrados com alturas de um metro (1 m).




4 Do volume calculado, 2/3 serão armazenados no reservatório inferior (cisterna) e 1/3 no reservatório superior.

Então, o lado do reservatório inferior (Lri) terá:



5 Quantidades para o reservatório superior:



6 Quantidades para o reservatório inferior:


Fonte: Construção Mercado

Alvenaria de vedação x Estrutural

Comparativo de custos aponta economia de 27,64% com uso de blocos estruturais, mas mudanças no projeto levam à adoção de sistema misto

O motel Aspen Ville, na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, foi inicialmente concebido para ser construído em alvenaria de vedação. Após o início da terraplenagem, no entanto, uma profunda alteração no projeto levou a construtora NGalvan a reconsiderar o método construtivo, fazendo uma comparação entre alvenaria estrutural feita em bloco cerâmico estrutural de 3,0 MPa de resistência e estrutura de concreto com fechamento constituído por alvenaria de blocos cerâmicos.



Bloco de vedação: apesar de mais caro, sistema de vedação teve de ser usado para não desperdiçar material já adquirido

Alvenaria estrutural: economia de 27% em relação ao sistema convencional




O motivo da mudança foi o seguinte: a princípio, o motel teria quartos térreos, ladeados por garagem de cerca de 3 m de largura. Mas o cliente solicitou a verticalização do projeto - quarto sobre garagem - abrindo espaço para dobrar o número de unidades. Foi quando Luiz Fernando Galvan, engenheiro responsável pela obra e diretor da construtora, sugeriu o uso da alvenaria estrutural para construção dos dois pavimentos - piso térreo e superior.

Porém, a alteração completa do sistema construtivo enfrentaria ainda mais um empecilho: parte do material a ser usado originalmente na estrutura da alvenaria de vedação já havia sido comprada, inviabilizando, em termos de custo, a construção integral da obra em alvenaria estrutural.

A solução veio no fechamento das garagens. Aproveitando que o vão do compartimento teria de ser ampliado, de 3 m para 3,6 m, para introdução da escada de acesso ao primeiro piso, o engenheiro resolveu, então, modificar a matéria-prima das divisórias dessas garagens - inicialmente projetadas em chapa metálica ou drywall - para blocos cerâmicos de vedação, utilizando o material estocado.

A reviravolta de projeto e seu impacto no planejamento de suprimentos, com a compra antecipada do material, resultaram na opção por um sistema híbrido. Porém, na ponta do lápis, fica claro - como mostrado em tabela à parte - que a construção do piso térreo em alvenaria estrutural sairia mais em conta. Se construído exclusivamente com blocos estruturais, o piso apresentaria um custo 27,65% inferior ao valor consumido na construção do mesmo projeto em alvenaria de fechamento. "Poderíamos usar graute nos blocos estruturais em vez de moldar pilares em cada extremidade", observa. Galvan defende que esse sistema confere praticidade e agilidade à obra ao dispensar a construção de vigas e pilares, eliminando o uso de fôrmas de madeira e reduzindo gastos com material e mão de obra.

De qualquer forma, diante da circunstância pontual apresentada no dia-a-dia da obra, a solução híbrida - alvenaria estrutural nos quartos e vedação nas garagens - reduziu os custos originais, facilitou o processo construtivo e eliminou parte dos resíduos da moldagem de concreto, satisfazendo, portanto, cliente e fornecedor.

Pilares e vigas de concreto armado executados em obra. A altura para lajes de cobertura é de 8 cm. De acordo com a empresa, devido a praticidade na execução da alvenaria estrutural, ocorre uma queda no valor da mão de obra.

Fonte: Construção Mercado

Custo de habitação popular com alvenaria estrutural





Confira os custos de uma edificação econômica com 28 apartamentos de 50 m² executada em alvenaria estrutural

De olho no mercado de habitação econômica, a pergunta recorrente entre construtoras e incorporadoras tem sido: quanto custa uma edificação com alvenaria estrutural? A equipe de engenharia da PINI foi atrás dessa resposta e destrinchou os principais custos que compõem o orçamento de um prédio padrão popular com uso da solução.

Para isso, tomou como referência o projeto de um edifício com sete pavimentos, considerando somente os custos diretos da construção. Distribuídos em uma área construída de cerca de 1,6 mil m2, os quatro apartamentos por andar de aproximadamente 50 m2 contam com dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço, um banheiro e varanda.

Após levantamento dos quantitativos foram utilizadas no orçamento as composições do TCPO 13 (Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos) da PINI. "Caso tenha interesse, os construtores poderão usar o orçamento, aliado a um bom projeto, como base para viabilizar seus empreendimentos", diz Bernardo Corrêa Neto, gerente de engenharia da PINI.

Para compor o orçamento, além dos requisitos de uma edificação comum - tais como fundação, alvenarias, instalações de telhado etc. -, também se levou em consideração algumas particularidades estruturais. Em função do uso da alvenaria armada, pilares e vigas foram excluídos e, como as lajes também são pré-moldadas, os consumos de concreto, armação e fôrma diminuíram consideravelmente. "O uso da alvenaria com régua metálica aumentou o custo da mão de obra. Mas, por outro lado, eliminou a necessidade de revestimento interno", explica o engenheiro.

De fato, um dos grandes benefícios da alvenaria estrutural é a possibilidade do barateamento do custo da estrutura. E justamente por isso, apesar de limitar a "personalização" das unidades, o sistema é muito bem-vindo em produtos destinados à baixa renda. Entre as vantagens da solução em relação ao modelo convencional está a regularidade das medidas dos elementos, proporcionando menor desperdício de materiais e até mesmo a eliminação de serviços de chapisco e fôrmas (para execução das vigas e dos pilares).

Vale reforçar que o orçamento apresentado nas próximas páginas não é absoluto e está sujeito a alterações diversas decorrentes das peculiaridades de cada obra. A ressalva também vale para os preços unitários, que podem ser diminuídos conforme as boas negociações das construtoras com seus fornecedores.



O que foi e não foi considerado
> Os orçamentos consideram apenas a construção
> Como revestimento, adotou-se pintura látex na fachada
> Custos como serviços preliminares, alojamento, limpeza da obra, sistemas de aterramento, arruamento, canteiros e terraplenagem foram desconsiderados
> O projeto prevê a utilização de fundações com estaca tipo Strauss, laje convencional treliçada; alvenaria de blocos de concreto estrutural; esquadrias de alumínio, instalações hidráulicas de água fria e esgoto em PVC; revestimento de piso em cerâmica comum nas áreas molhadas e cobertura com estrutura de madeira e telha cerâmica
> O projeto base para orçamentação prevê a construção de uma edificação com sete pavimentos-tipo, sendo três deles localizados abaixo do nível de acesso ao prédio. A disposição dos pavimentos, possibilitado pela declividade do terreno onde a construção foi edificada, permitiu o aumento do número de unidades sem dispêndio com instalação do elevador



Especialistas opinam
"O orçamento está coerente, sobretudo no que tange ao processo construtivo. Porém, em Porto Velho (RO), é necessário fazer algumas ressalvas, principalmente no item mão de obra que, por aqui, é encarecida dada a escassez de profissionais qualificados e a necessidade de importação de outros Estados, além da grande distância da região em relação aos centros produtores. Por questões ambientais, insumos básicos, como areia e brita, apresentam preços muito altos e, com a alta demanda, nos últimos dois anos seus preços mais do que dobraram"

Paulo Adriane da Costa Medeiros, engenheiro orçamentista da Coeng Comércio e Engenharia.


"Quanto aos preços apresentados, certamente sempre existe uma possibilidade de conseguir boas negociações e, com isso, descontos comerciais. Um ponto que deveria ter sido considerado é a impermeabilização de baldrames, já que o projeto contempla a construção de apartamentos no pavimento térreo que poderão apresentar problemas de umidade e, consequentemente, futuros custos de manutenção. Como a estrutura tem sete pavimentos, teremos mais de um tipo de bloco estrutural (com maior resistência) e isso deveria aparecer no orçamento, pois os preços dos blocos apresentam diferenças. No projeto, alguns itens podem ser melhorados a fim de proporcionar redução nos custos, tais como a utilização de portas de madeira com bandeira; massa única no lugar de emboço e reboco (tanto interna como externamente); escada tipo jacaré e a otimização das instalações de modo a minimizar os rasgos, que devem ser evitados na alvenaria estrutural"

Luiz Fernando Ferreira de Castilho, gerente de orçamento da Sinco Incorporadora e Construtora.


"Os itens fundação e subsolo representam 4% desse orçamento ante 1,6% do orçamento da MPD Engenharia. Isso porque o orçamento apresentado leva em conta o uso da fundação em estaca tipo Strauss, que às vezes pode ser mais cara. É necessária uma análise mais sólida na hora de decidir por um tipo de fundação específico. No item estrutura, notei que o grout é um item que deveria estar contemplado em alvenaria e que a laje pré-fabricada pode ter sido uma subatividade (insumo) que encareceu a atividade, pois seu custo unitário de material está um pouco elevado em relação aos preços praticados pela nossa empresa. A locação mensal da escora metálica, sob um valor fixo, ajudaria no controle orçamentário. No item revestimento, substituir a argamassa cimentícia por revestimentos de gesso (nas áreas não frias) traria uma considerável economia"Weslley Fabrício, engenheiro e coordenador de obras sênior da MPD Engenharia.




Características do orçamento


EDIFÍCIO POPULAR COM ALVENARIA ESTRUTURAL


> Área construída de 1.627,29 m²
> Prédio padrão popular com sete pavimentos, sendo quatro apartamentos por pavimento
> Apartamentos de dois dormitórios, sala, cozinha/área de serviço, banheiro e varanda
> Fundações com estaca tipo Strauss
> Laje convencional treliçada
> Alvenaria de blocos de concreto estrutural
> Esquadrias de alumínio
> Instalações hidráulicas de água fria e esgoto em PVC
> Revestimento de piso em cerâmica comum nas áreas molhadas e regularização nos demais para revestimento posterior
> Cobertura com estrutura de madeira e telha cerâmica

Confira os custos de uma edificação econômica com 28 apartamentos de 50 m² executada em alvenaria estrutural





Fonte: Construção Mercado

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Instalações hidráulicas

Veja passo-a-passo como levantar as quantidades das instalações hidráulicas com base nos projetos de arquitetura

Por Bernardo Corrêa Neto engenheiro civil e gerente de engenharia da PINI


Geralmente a orçamentação das instalações hidráulicas é realizada com os projetos de instalações. No entanto, com os projetos de arquitetura já é possível orçá-las, como mostraremos a seguir. Para isso, dividiremos as instalações hidráulicas em quatro partes: 1) entrada; 2) distribuição interna; 3) prumadas; e 4) rede de incêndio.


Entrada
Para entrada adote:
> Um abrigo para cavalete - un.
> Um cavalete com tubo de aço galvanizado, com diâmetro de 25 mm (1") - un.


Distribuição interna
Para quantificação, somaremos as quantidades dos pontos de água fria (Paf) e de água quente (Paq). Adotaremos como exemplo o projeto de arquitetura abaixo.




Água fria
Some todos os pontos de água fria sem esquecer os pontos de filtro na cozinha, da máquina de lavar na área de serviço e dos pontos de torneira em varandas e terraços (se houver).

Analisando o projeto de arquitetura utilizado como exemplo, temos três ou quatro pontos de água fria: lavatório, chuveiro, vaso sanitário e ducha higiênica (opcional).

Para calcular as quantidades de cada ponto de água fria, adote:
> 8 m de tubo soldável marrom de PVC Ø 25 mm (m)
> Três curvas 90º soldável de PVC marrom Ø 25 mm (un.)
> Um tê 90º soldável de PVC marrom Ø 25 mm (un)


Água quente
Caso o banheiro tenha rede de água quente, teremos dois pontos: um para o lavatório e um para o chuveiro. Na rede de água quente vamos adotar tubos e conexões de cobre. No entanto, o material pode ser alterado para CPVC, se desejar.

Para cada ponto de água quente, adote:
> 8 m de tubo soldável de cobre (ou CPVC) Ø 22 mm (3/4") (m)
> Quatro cotovelos soldáveis bolsa x bolsa de cobre (ou CPVC) Ø 22 mm (3/4") (un.)
> Um tê soldável de cobre (ou CPVC) Ø 22 mm (3/4") (un.)

Adote também um registro de gaveta com canopla Ø 20 mm (3/4") para cada ambiente "molhado" que tiver rede de água quente. Os registros da rede de água fria serão inclusos nas prumadas.


PRUMADAS
Para calcular todos os itens das prumadas, é necessário determinar a quantidade de prumadas (Qp) de água fria. Para tal, analise a planta baixa do pavimento-tipo ou da casa. Normalmente haverá uma prumada para cada ambiente molhado. Porém, os ambientes contíguos podem ser alimentados por prumada única. Anote também a altura da edificação (Ht) e o número de pavimentos (Np).

Com esses dados, teremos:
> Qp x Ht = quantidade total de tubo soldável de PVC marrom Ø 50 mm (m) (para as prumadas)
> Ht = quantidade total de tubo soldável de PVC marrom Ø 40 mm (m) (ligação entre cisterna e reservatório superior)
> Np x Qp = quantidade total de registros de gaveta bruto Ø 50 mm (2")
> Um automático de boia (para o recalque)
> Duas torneiras de boia Ø 25 mm (1") (para os reservatórios)
> Dois conjuntos elevatórios motor-bomba (centrífuga) de 3/4 HP (para recalque)


REDE DE INCÊNDIO
Agora temos que levantar a quantidade de prumadas de incêndio (Qpi). Normalmente as prumadas são localizadas nos corredores de serviço onde ficam as caixas de incêndio com as mangueiras. O número de pavimentos (Np) e a altura da edificação (Ht) também entram na conta.

Teremos então:
> Qpi x Np = quantidade de abrigos para hidrante em chapa, com mangueira de 65 mm (2 1/2") x 20 m (un.)
> Qpi x Np = quantidade de hidrantes com registro globo angular 45 d = 65 mm (2 1/2") (un.)
> Qpi x Ht = quantidade de tubo aço galvanizado Ø 3" (m)

Por fim, caso a edificação também possua rede de combate a incêndio com pontos de splinkers, podemos adotar um ponto a cada 10 m2. Para cada ponto coloque 6 m de tubo de aço galvanizado Ø 3/4".

Fonte: Construçãomercado

terça-feira, 21 de julho de 2009

Como levantar as quantidades de impermeabilização

Como Orçar

Saiba como levantar as quantidades dos serviços de impermeabilização


O primeiro passo para o levantamento de quantidades dos serviços de impermeabilização para efeito de orçamento e contratação dos serviços é a obtenção dos seguintes dados pelo orçamentista: projeto de execução de impermeabilização, memorial descritivo de especificações dos materiais e dos processos executivos, além do projeto de arquitetura executiva com as indicações das interferências estruturais e das interferências das instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias.

É recomendada a leitura das normas Impermeabilização - Seleção e Projeto (ABNT - NBR 9575: 2003) e Execução de Impermeabilização (ABNT - NBR 9574: 2008). Elas descrevem os tipos de processos de impermeabilização, os métodos de execução, as recomendações para a execução de um projeto adequado, as exigências e as recomendações construtivas que devem ser levadas em conta nos levantamentos de quantidades, assim como na sua execução.

Verifica-se que na prática as empresas construtoras não realizam o projeto como prática usual, apesar do serviço de impermeabilização representar 1,5% a 3,5% do custo total da construção, e ser um dos principais fatores de patologia e de despesas de manutenção após a conclusão da obra.

Cabe ao orçamentista, além da insistente e perseverante busca das informações adequadas, trabalhar para a conscientização dos representantes técnicos da construtora da necessidade e das vantagens advindas de um projeto adequado, e que poderá ser replicado para os demais empreendimentos da empresa.

Recomendo como alternativa para a obtenção dos dados para os levantamentos, na ausência de projeto, o desenvolvimento de um memorial técnico onde constam os compartimentos que serão impermeabilizados, os tipos e os materiais de impermeabilização que serão adotados, os processos executivos e os detalhes relevantes. Esse memorial deve ser elaborado com a participação do engenheiro responsável pela obra e por um consultor de impermeabilização ou de empresa especializada.

De posse dos dados, são realizados os levantamentos de quantidades que devem ser feitos de forma a minimizar a possibilidade de erros de levantamentos ou omissões de compartimentos.

Recomenda-se o desenvolvimento de uma planilha eletrônica, na ausência de um programa específico de levantamento, onde conste, além dos dados do empreendimento, data, assinatura do responsável pelo trabalho, e os seguintes elementos: descrição dos compartimentos; descrição dos tipos de impermeabilização; perímetro do compartimento; área do compartimento; viradas nas paredes do compartimento; avanço nos vãos ou nas áreas contíguas; medidas dos descontos de vãos e interrupções; e resultados dos cálculos das áreas e perímetros para a execução da impermeabilização.

O resultado dessa planilha deve permitir a apresentação de relatório de quantidades por compartimento, por pavimento, do total levantado, e por tipologia de impermeabilização. Como exemplo, confira a planilha com a simulação de um levantamento hipotético de impermeabilização de uma edificação com subsolo, térreo, pavimento comum, cinco pavimentos-tipo e telhado. Esse tipo de levantamento possibilita a rastreabilidade do levantamento das quantidades, e a equalização das quantidades quando da realização da licitação para a contratação dos serviços.

Os levantamentos devem ser compatíveis com as metodologias adotadas pelo mercado quanto à discriminação dos serviços, os critérios de medição e a forma de pagamento. Os levantamentos orçamentários devem ser entendidos como previsões que serão consolidadas na contratação dos respectivos serviços sem que ocorram diferenças relevantes de processos, de quantidades e de custos.

Quanto à metodologia dos processos nas edificações, não verificamos ainda uma padronização consolidada para as pequenas empresas, onde muitas vezes cabe ao engenheiro da obra, ou à empresa especializada contratada, as definições dos sistemas e processos executivos.

A norma Impermeabilização - Seleção e Projeto (ABNT - NBR 9575: 2003) descreve detalhes construtivos que o projeto de impermeabilização deve atender, como por exemplo:

> Impermeabilização nos planos verticais com altura mínima de 20 cm acima do piso acabado ou 10 cm no nível máximo que a água pode atingir (constatamos na prática do mercado construtivo a adoção de virada de no mínimo 30 cm).

> Quando houver tubulações de água quente embutida, deve ser prevista proteção adequada dessas, para a execução da impermeabilização.

> A impermeabilização deve ser executada em todas as áreas sob enchimento, e recomenda-se executá-las também sobre o enchimento.

Para finalizar, lembramos que a importância dos levantamentos de quantidades não se restringe à precisão das previsões orçamentárias que servirão para o planejamento da obra. Sua importância é extensiva ao desempenho e ao resultado da construção pela referência de sua quantidade na contratação dos serviços. A margem de erro na precisão desses levantamentos influi diretamente no resultado financeiro da contratação desses serviços.




Pedrinho Goldman, engenheiro civil, doutorando em engenharia civil pela UFF-RJ (Universidade Federal Fluminense), diretor da Pekman Engenharia e autor do livro "Introdução ao Planejamento e Controle de Custos na Construção Civil", da Editora PINI.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Orçamento participativo

Por Mariuza Rodrigues
Como organizar o departamento de custos e orçamentos, padronizar processos e reduzir, o máximo possível, a ocorrência de erros de avaliação? A resposta da Hochtief para esta questão está baseada em ampla e irrestrita reestruturação interna, que deu novo sentido para o termo célula, que já foi execrado no repertório nacional. Na Hochtief, as células de trabalho são a base do project team, em que participam profissionais de diversas áreas para a elaboração de uma proposta de negócio. O orçamento não fica restrito a um departamento. Tampouco resulta de um trabalho meramente burocrático. Mas requer a participação das áreas comercial, de engenharia, financeira, administrativa, para formulação de uma proposta que contemple tanto os aspectos financeiros como de tecnologia. A proposta não é somente orçada mas avaliada seguindo critérios objetivos sobre viabilidade. Nesta entrevista, Olgarita Riviera, diretora comercial da empresa, explica como funciona essa estrutura. A engenheira elétrica que migrou da área industrial para o setor da construção, comanda, "a várias mãos", uma etapa significativa desse processo.


Qual é o critério para a escolha de uma proposta?
Na Hochtief, todas as decisões fazem parte de um processo. Então, quando surge a proposta, há uma reunião de diretoria, com os integrantes das unidades comercial e de projetos, onde é realizada uma triagem com base em algumas análises. É verificado se o cliente dispõe dos recursos necessários para realizar o empreendimento, se a obra se insere dentro do perfil de negócios que a construtora estabeleceu como meta e se temos recursos para desenvolver aquele orçamento, entre outros critérios. Essas avaliações são colocadas em votação e resultam numa recomendação que será enviada à diretoria da empresa. Também é gerado um orçamento de quanto vai custar essa etapa de orçamentação do negócio. Com base nisso a diretoria decide em quais propostas nós vamos entrar. Atualmente, 40% das oportunidades de negócios se cristalizam em propostas. Sendo que o nosso índice de conversão das propostas em negócios tem sido de 19%.

Até que ponto o custo da etapa de orçamentação torna o processo viável ou não?
Há uma margem que pode tornar o processo inviável ou não. Vamos dizer, algo em torno de 200 mil reais, por exemplo. A média é muito menor do que isso. Na etapa de orçamentação, cada profissional registra a quantidade de horas de trabalho necessário para executar aquela tarefa. Isso permite contabilizar em parte o custo do processo. Então, é feita uma previsão desse custo na análise de cada proposta e isto é levado à diretoria. Existem propostas onde não há nenhuma informação e é preciso levantar tudo. Esse é um orçamento que fica muito caro. Então é preciso avaliar os riscos e os custos. Hoje, a Hochtief está incorporando novos tipos de obra à sua carteira de infra-estrutura. Estamos nos estruturando para desenvolver esse tipo de obra, que requer orçamentos muito mais caros.

Existe uma margem de lucro fixa para os negócios?
Apesar de sermos independentes da Hochtief AG, na Alemanha, reportamos a ela os nossos resultados. Temos limites de lucro estabelecidos para cada negócio, que giram em torno de 3% a 4%. Há contribuições relativas a cada um deles, que depende de cada caso. É claro que há negociações, mas hoje o mercado está tão competitivo que essas folgas são mínimas. Quando se faz as propostas, em geral, elas não sofrem alterações. Hoje não existe mais aquelas margens que existiram no passado. O importante é que temos de manter a empresa viva. Não podemos ser inconseqüentes. Temos de remunerar o capital dos acionistas, o que é uma das missões da empresa. É claro que às vezes a situação no mercado fica difícil. Hoje, com essa questão da energia, não sabemos o que vem pela frente. Todas as nossas propostas já estão saindo mais caras, porque, no mínimo, prevêem o custo de um gerador. Então, às vezes é preciso praticar tática de guerra. E a tática de guerra é nos manter vivos. Costuma-se dizer que o único setor que quebra trabalhando é a construção civil.

Como está estruturada a área de orçamentos dentro do organograma da Hochtief do Brasil?
A Hochtief atua dentro de um sistema de gestão bem definido, a partir da divisão de tarefas por unidades de serviço. O departamento de Orçamento e Proposta é uma dessas unidades, que funciona ou se reporta à Diretoria Comercial. O setor é uma das principais pontes na elaboração das propostas para novos negócios e tem um papel essencial no funcionamento do project team - o grupo de profissionais encarregado de preparar a proposta cada vez que surge uma oportunidade no mercado. Esse time conta com profissionais de diversas áreas como engenharia, projetos, suprimentos, área administrativa. A esse time é designado um líder, que conduzirá todo o processo e também será o gestor do empreendimento durante a execução. O líder vai acompanhar todo o empreendimento, da elaboração, passando pela negociação, execução e o pós-entrega.


Qual é a maior dificuldade do processo?
É comum surgirem clientes que têm pressa para desenvolver o empreendimento porque houve uma demora no processo decisório. Mas, uma vez concluído, o cliente deseja obter a cotação em "cinco" minutos. Então o trabalho fica comprometido porque, provavelmente, o projeto não está completo. Para se fazer uma boa cotação é ideal que o projeto esteja o mais completo possível. A Hochtief não tem medo de concorrência, principalmente quando a proposta é bem feita, quando o cliente nos dá tempo de preparar a proposta adequadamente, quando o projeto está completo e há a disponibilidade de todas as informações necessárias para realizar uma boa orçamentação.

Então o grande problema é o prazo?
Sem dúvida. Esse prazo varia de acordo com o tipo de obra. Tem cliente que pede a resposta em dez dias. Então precisamos avaliar se nesse tempo é possível realizar uma proposta competitiva. Muitas vezes não há prazo suficiente para fazer uma boa proposta. Eu não consigo fazer a melhor cotação de mercado em duas semanas pois, depois de seguidas as diversas etapas - por exemplo, cotação -, é preciso realizar uma espécie de compatibilização entre as diversas demandas. Este é um processo interno e crucial para que possamos ser competitivos. E, apesar de todo o instrumental que a empresa dispõe, incluindo todos os sistemas informatizados, esse é um processo que requer um tempo para elaboração.

Quais são as etapas desse serviço?
Todos os nossos processos são informatizados. A empresa utiliza um sistema de gestão integrado, o SAP (System Auswendetes Program), que foi customizado para as nossas necessidades, tornando-se o Aristóteles. O módulo Kubos gerencia um banco de dados constituído ao longo de 15 anos, com informações referentes aos subempreiteiros, incluindo cotações de materiais. Há ainda o módulo Renus, que gerencia a parte de custos e de administração financeira. E o Business Inteligent, em fase de implantação, que permite a análise de todas as informações, inclusive as relativas às obras.

A base do processo é o banco de dados?
Sim. O Kubos é uma ferramenta essencial para se preparar uma boa proposta. Nele podemos buscar todas as informações, programações e listagens de orçamentos. Permite uma visão geral da atividade e das experiências ou resultado das obras. Isso é muito importante. Trabalhamos com índices, ou seja, composições de custos, retirados das próprias obras da Hochtief. Além, é claro, de um banco de dados com os preços de materiais e serviços. Dessa forma, podemos saber quanto tempo levamos para executar determinadas tarefas e quais os sistemas adequados ou possíveis de serem empregados. Ao mesmo tempo, modernizamos constantemente os nossos processos, o que permite otimizar prazos e custos. O orçamento que é inserido no sistema automaticamente vira parâmetro para outras obras. O processo vai sendo alimentado. As novas soluções técnicas melhoram a qualidade do orçamento porque essa experiência positiva é transmitida para outros projetos.


Como funciona o project team?
O project team é um grupo que se forma cada vez que surge uma chance ou uma oportunidade no mercado. É uma espécie de célula de trabalho e, uma vez a proposta ganha, ela se torna uma unidade de negócio. Esta célula vai agregando os profissionais dos vários setores de acordo com a necessidade do negócio. Durante a execução, novos departamentos podem ser integrados e outros saírem. Mas a base principal permanece a mesma. Esse grupo acompanha e aplica tudo o que foi planejado anteriormente. Estas informações serão repassadas aos próximos project teams pelo líder, que é na verdade um veiculador das informações. Ele é uma peça-chave em toda essa estrutura. É importante frisar que todas as soluções adotadas são muito estudadas. Nada entra numa obra sem passar por uma análise bem aprofundada. Nada se faz aleatoriamente. Esse grupo estuda de fato a proposta. Estudamos as melhores soluções. Talvez gastamos mais dinheiro nessa fase do que outras empresas porque empregamos profissionais qualificados nesse trabalho. Todo o planejamento é executado nessa etapa. Mas isso representa um custo. Por isso precisamos selecionar as propostas. A Hochtief não entra em qualquer negócio.

Como se organiza o trabalho dos project teams?
Uma vez definida a proposta, o diretor técnico indica o líder do project team. Esse líder estabelece o seu time de trabalho. É feita uma reunião de início de projeto, onde são listadas todas as atividades que serão levantadas naquele processo de orçamentação e os responsáveis por cada serviço. Cada orçamento é moldado de acordo com o perfil do empreendimento. Se é uma indústria, isso representa mais insumos básicos. Se é um edifício, isso demanda mais insumos de acabamento. Ou seja, depende das características da obra. Dois fatores são importantes: as especificações dadas pelo cliente e o tipo de contrato que vai reger o trabalho.

É normal receber esses desenhos ou projetos prontos?
Ter os desenhos adequados ajuda muito no processo de orçamentação. Temos uma equipe de engenharia que se encarrega de definir os tipos de projetos, ou layouts básicos, elaborar os cálculos. Mas algumas vezes é preciso buscar especialistas no mercado. Isso representa serviços que precisam ser executados e levantados na etapa de orçamentação. Hoje, a Hochtief é uma general contractor, capaz de desenvolver desde o projeto até a execução da obra. E para isso ela conta com diversos parceiros no mercado. Atualmente, a grande maioria dos clientes são do exterior. Eles chegam com um projeto básico que precisa ser adequado às condições do mercado brasileiro, quanto à legislação, sistemas construtivos, entre outros requisitos.

Quais são os gargalos de um processo de orçamentação?
Quando eu não tenho um projeto bem definido, uma especificação clara, um modelo de contrato, isso atrapalha o processo, quando não há tempo suficiente para fazer a cotação dos preços no mercado e equalizar a proposta internamente. Todos esses aspectos são gargalos. O preço de concreto também é uma grande variável que, no caso de indústrias, obras pesadas, representa uma grande parte do orçamento. Ou seja, neste tipo de proposta, o custo do concreto vai ser relevante. E se esse item não for bem negociado e o parceiro bem definido, podem surgir problemas.

Parcerias na etapa de orçamentação são comuns?
Cada caso é um caso. Às vezes é dada uma preferência ao fornecedor; em outras, é feita a licitação. Ou, ainda, fazemos uma cotação no mercado. A gente nunca trabalha com o menor preço, mas com o preço mais adequado para aquele orçamento. Porque às vezes o menor preço pode não ser o preço mais completo. Temos um cadastro de parceiros que são avaliados constantemente. Isto é, no caso de ocorrer algum problema, essa informação volta para o cadastro e esse fornecedor recebe uma nota, que pode até impedir que ele entre na próxima cotação. Isso vale tanto para materiais quanto para serviços.


Quais itens de compra apresentam margem de negociação mais difícil?
Além do concreto, tem o pré-moldado, e toda a linha derivada desse material. Há insumos, como fachadas pré-moldadas, por exemplo, em que todos os concorrentes buscam um só fornecedor. Isso pode comprometer o fornecimento, porque o fornecedor pode estar casado com outra construtora e nos passar um preço mais alto.

Qual é a margem de diferença entre os preços que estão no mercado e os preços obtidos nessas negociações. A diferença é significativa?
Hoje em dia é preciso fazer uma boa negociação para achar o preço justo. O nosso banco de dados permite um bom parâmetro de mercado. Isto é fundamental. Hoje, como a competitividade está muito grande, as negociações estão muito restritas. Quem oferece a melhor proposta é aquele que negocia melhor. Então o banco permite saber até onde podemos negociar, até um valor que consideramos justos. Não adianta exigir mais do fornecedor do que ele pode ceder. Senão, depois ele não vai conseguir garantir o preço.

Como é possível reduzir o BDI controlando os riscos?
Quanto mais informação sobre a obra - um projeto bem feito, uma boa especificação -, maior o domínio sobre o processo. Isso representa uma boa tomada de preços e não termos assumido descontos a mais. Tudo isso permite reduzir os riscos. Com essa listagem de fornecedores e de materiais, é possível avaliar o risco em cada orçamento, por atividade, e assim avaliar o risco em cada proposta.

A ocorrência de propostas em outros Estados gera alguma dificuldade?
Muitas vezes, principalmente quanto ao concreto. Temos parcerias consolidadas em São Paulo, mas quando a obra é no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, ou outro Estado, as condições são completamente diferentes. É possível que uma concreteira local dê uma condição de negociação melhor do que uma concreteira de outro lugar. Às vezes, adotam-se soluções mistas. É comum também instalarmos nossos equipamentos, ou seja, montarmos uma central para reduzir os custos.

Até aqui não falamos de padrão de construção.
Esse padrão é um só e não varia em função da obra. A Hochtief trabalha com subempreiteiros. Mas, como empresa que tem ISO 9000, ela exige também de quem trabalha a mesma performance. O que procuramos é resolver todos os problemas na etapa de planejamento. Outra coisa muito importante é avaliar bem o contrato. Porque podem haver ali critérios restritivos que inviabilizam a apresentação da proposta. É necessário saber, por exemplo, como o cliente vai controlar a entrega dos serviços.

As recomendações feitas pela área comercial sobre determinada proposta são sempre aceitas?
É evidente que as decisões são sempre baseadas na recomendação da diretoria comercial. Mas nem sempre essas recomendações são adotadas. Porque a diretoria segue uma visão estratégica para a empresa e nessa análise são avaliadas também outras variáveis, que não foram consideradas pela área comercial. É como foi dito no início. Na Hochtief tudo é um processo e as ações não se dão de maneira aleatórias.

Fonte: Contrução Mercado

BDI - Parte II

"BDI tem que ser enxuto"

Secretário de fiscalização de obras e patrimônio da União defende inversão de fases e pregão para obra, nega padronização do BDI e explica análise dos preços dos orçamentos baseada no Sinapi

Por Mirian Blanco


Falando em custo, por que a composição dos orçamentos de obras é restrita aos índices do Sinapi, sendo que há vários agentes que concordam sobre possíveis distorções desse índice?

A lei estabelece que os preços unitários sejam adequados a sistemas referenciais do Governo Federal (Sinapi, Sicro - Sistemas de Custos Rodoviários; Codevasf - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Paranaíba), mas a própria lei prevê as exceções. É claro que existem particularidades que devem ser consideradas no orçamento, só que é obrigação do gestor demonstrar e justificar preços acima das faixas de preço dos sistemas referenciais, seja o preço superior de algum item uma particularidade daquela obra, ou o preço de determinado item que extrapola o previsto no sistema. Isso é plenamente aceito.

Mas se isso já era uma exceção, a lei 11.439 (Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2007), que proibiu que os custos unitários sejam superiores à mediana daqueles constantes da lista do Sinapi, não dificultou ainda mais a aceitação dessas particularidades no orçamento?

A proibição é regra, mas no primeiro parágrafo dessa lei está expressa a exceção. A lei diz "somente em situações especiais, devidamente justificadas em relatório técnico circunstanciado, poderão os respectivos custos ultrapassar o limite fixado". Mas o gestor tem que motivar esse ato, dizendo por que está adotando aquele preço.


Pode me dar um exemplo em que essa particularidade tenha sido aceita?

Fizemos uma auditoria há alguns anos numa obra rodoviária no Acre em que o material betuminoso (pavimentação) era 70% superior ao ciclo. No processo não havia justificativa nenhuma que explicasse aquele preço muito maior. Quando nos veio a justificativa, como resposta a uma audiência do Tribunal, estava ali explicado que o meio de se levar o material betuminoso até aquela obra era um meio pluvial e que o rio que passava próximo ao canteiro só era trafegável no período de chuva. Ou seja: o material betuminoso tinha que ser levado durante seis meses e depois de seis meses a empresa era obrigada a instalar tanques e dar o tratamento necessário (de aquecimento e tal) quando do efetivo uso. Eles explicaram que como não havia esse item particular na planilha desses custos adicionais, decidiram aplicá-lo na execução do serviço, ou seja, aumentaram os preços. Isso foi absolutamente aceito.


Mas, de novo, foi um problema de má especificação do serviço.

Claro, se a lei fosse cumprida e se isso estivesse no orçamento-base, o problema não teria sido apontado. O problema é que, em mais de 90% das vezes, chegamos a uma auditoria e não encontramos explicações ou justificativas como essas.


O TCU interpreta que obra de engenharia, seja ela de qualquer porte, é um bem comum e, portanto, pode ser licitado via pregão?

Os entendimentos do Tribunal são no sentido de que pregão para obra está vetado na atual legislação federal. O Tribunal entende que a lei não vetou o pregão para serviços, desde que sejam serviços comuns. Portanto, a lei não vetou o pregão para serviços de engenharia se eles forem entendidos como serviços comuns.


E o que difere comum do não comum?

Essa diferença tem sim uma dose de subjetividade que tem que ser avaliada caso a caso. Temos casos em que o Tribunal entendeu como comum, se não me engano em um caso, por exemplo, de impermeabilização. Há outros em que o Tribunal não entendeu como comum, então não poderia ter sido adotado o pregão como foi. A questão é: quando um serviço passa a ser obra? Onde está a linha divisória de serviço de engenharia e obra? Um serviço de escavação: é serviço ou é obra? Uma impermeabilização: é serviço ou é obra? Um serviço de fundação: é serviço ou é obra? Não existe um entendimento. A jurisprudência não consolidou isso.


E por que não vetar o pregão para serviços de engenharia?

Na administração pública, vimos manifestações favoráveis ao pregão de forma geral em toda sua utilização. Ele melhora a competitividade, garante sigilo, a participação fora da praça onde se realiza a licitação é muito maior... Na licitação de menor preço, o pregão é uma ótima medida para agilizar a contratação de obras, acabar com aquele negócio de recursos administrativos, que atrasam a licitação, a contratação e as obras do País.


Mas aí o setor da construção civil questiona que a inversão de fases induziria à decisão pelo menor preço.

A inversão de fases, para nós, técnicos do Tribunal, é uma medida excelente para licitação de menor preço. Por que não inverter as fases? Muitas vezes fica-se discutindo a habilitação de alguém cujo preço está muito acima. Então, perde-se tempo. Eu, particularmente, vejo o seguinte: na licitação de menor preço, que não tem a avaliação de técnica, o pregão poderia sim ser utilizado para obras, mas deveria haver maior rigor na habilitação. Os critérios de habilitação deveriam ser mais objetivos.


Mas isso não daria vazão à contratação com baixa qualidade?

Em essência, pela lei, esse argumento não tem sentido. Mas existe um argumento usado pela CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) também para a inversão de fases, e que, sim, tem sentido. Que é o seguinte: tendo uma empresa que apresentou uma proposta de R$ 8 milhões e outra de R$ 10 milhões, é muito difícil para o gestor, depois de ter visto a habilitação do ganhador no quesito preço, inabilitar essa empresa que apresentou proposta de R$ 8 milhões porque, assim, ele gastará dois milhões a mais. O gestor fica numa situação desconfortável em que, se ele for muito rigoroso na habilitação e não escolher a proposta mais barata pode ser chamado a responder por isso - afinal, contratou 25% mais caro. Como na licitação normal, primeiro abre-se o envelope da habilitação, o gestor fica mais confortável para inabilitar alguém porque ainda não sabe o preço dele.


Se o argumento tem sentido, ele argumenta a não inversão?

Penso que é possível a inversão de fases, assim como também poderia ser possível o pregão para a obra, desde que os critérios fossem mais objetivos e rigorosos. Aí não dependeria da opinião do gestor.


Como assim?

A lei usa algumas palavras na parte de habilitação técnica que deixam muita margem para subjetividade; fala em obra ou empreendimento "semelhante"; não define quantitativos de atestados que devem ser pedidos. Por isso, se houvesse critérios mais rigorosos e objetivos, essa questão poderia ser sanada e a agilidade priorizada.


Você realmente acredita que isso daria certo?

Acredito que estaríamos numa situação melhor que a atual. Dar certo é uma coisa... Seria perfeito? Provavelmente não. Mas seria melhor do que hoje? Ah, eu acredito que sim.


Os recursos públicos estão sendo bem aplicados nas obras do PAC?

No ano passado, aproximadamente metade das obras fiscalizadas eram obras do PAC. Ao final do ano, aproximadamente 50% das obras não-PAC tiveram indícios de irregularidade grave, que significa indicativo de paralisação, enquanto apenas 15% das obras PAC apresentaram esse indicativo.


E qual foi o principal motivo para essa diferença?

O esforço do próprio governo para sanear qualquer problema que surja nessas obras e para que elas sejam regulares. A prerrogativa do governo de que, quando observadas as irregularidades, que as medidas saneadoras ou os esclarecimentos e justificativas nos sejam apresentados o mais rapidamente possível. E um esforço do Tribunal, sensível ao fato de que são obras estratégicas para o Governo Federal, de priorizar a tramitação dos processos e a apreciação desses casos. Então, vários problemas foram observados no meio do ano, quando as auditorias foram feitas, mas os esclarecimentos foram rapidamente trazidos para o Tribunal e/ou foram aceitos, ou medidas saneadoras foram adotadas.


O que aconteceu com a Camargo Corrêa na refinaria de Abreu Lima, em Pernambuco, que foi incluída no inquérito da Operação Castelo de Areia para a desarticulação de uma suposta quadrilha de crimes financeiros?

Quem investiga desvio é a polícia federal. No caso da auditoria do TCU da refinaria Abreu Lima, houve um indício de sobrepreço baseado em referenciais ligados a serviços de terraplenagem, e foi feita a oitiva das partes interessadas, incluindo a própria Petrobras, onde questionamos determinados valores, dando a eles a oportunidade de se justificar. Eles trouxeram a justificativa e isso está em análise nesse momento. Então, houve um primeiro indício e não irregularidade ou sobrepreço ou superfaturamento, como disse a imprensa. Foi um processo cotidiano, comum no Tribunal. Só vai passar a ser uma irregularidade, sobrepreço, superfaturamento, depois do devido processo.


E por que a obra do aeroporto de Vitória foi paralisada?

Apesar de ter sido publicado na imprensa que haveria um impasse de preços unitários entre Tribunal, Infraero e construtora, o problema não é esse. Na verdade, tem um ano e meio que nós nem analisamos os preços do aeroporto de Vitória. O processo está aqui parado.


Por quê?

Na primeira auditoria feita em 2006, avaliou-se o orçamento-base e o projeto básico da licitação, e foram observados indícios de sobrepreço. Perguntamos: "qual é a origem dos preços aqui adotados?" A Infraero não conseguia dizer qual a origem dos preços! Depois de muitas idas e vindas com documentos parciais sendo entregues, quando nos foi entregue aquilo que seria o orçamento parcial do que seria a obra, vimos que o projeto tinha sofrido drásticas alterações. O terminal de passageiros, por exemplo, que era de concreto convencional, tinha mudado para pré-moldado. E, no entanto, aquele orçamento que nos foi entregue não era da obra que estava sendo construída, era da obra que foi licitada, que era outra obra! Desde então pedimos à Infraero: projeto completo atualizado e orçamento correspondente a esse projeto.


Aí que a obra foi paralisada?

Como havia um indício de sobrepreço e eles não tinham documento para mostrar a improcedência daquele indício, foi proposta uma retenção parcial dos pagamentos (da ordem de 12,8%) de forma a permitir a continuidade da obra preservando o erário. Até que no ano passado verificamos que estavam sendo feitos pagamentos com o artifício de química (fazendo uma coisa como se fosse outra), ou seja, como não tinha pré-moldado, estavam medindo e pegando terraplenagem feita a mais para pagar pré-moldados.


Se se estava medindo e pagando, então, o contratante era cúmplice?

Sim. Então, o Tribunal mandou suspender os pagamentos com recursos federais. É um caso emblemático em que o Tribunal mostra toda sua tolerância para tentar corrigir o problema, mas ali se chegou num caso extremo.

Fonte: Construção Mercado

BDI - Parte I

"BDI tem que ser enxuto"

Secretário de fiscalização de obras e patrimônio da União defende inversão de fases e pregão para obra, nega padronização do BDI e explica análise dos preços dos orçamentos baseada no Sinapi

Por Mirian Blanco



André Luiz Mendes
Para André Luiz Mendes, secretário da Secob (Secretaria de Fiscalização de Obras e Patrimônio da União), as regras do TCU (Tribunal de Contas da União) para fiscalização e auditorias de obras são cercadas de lendas. Entre os ditos não justificados à luz da lei, estariam o atrelamento obrigatório dos preços unitários aos custos do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) e a padronização do critério contábil proposto pelo TCU para o BDI (Benefícios e Despesas Indiretas). "A questão do BDI tem uma dimensão absolutamente inexplicável no meio da construção."

Nesta entrevista exclusiva, o secretário explica, com detalhes, muitas das polêmicas e reivindicações do setor da construção civil. Considera devido o uso do pregão para obra e a inversão de fases nas licitações de menor preço, contanto que sejam estipulados critérios objetivos e rigorosos para licitação. Confirma que a maioria das licitações de obras públicas são realizadas com projetos básicos insuficientes. E nas pequenas obras, os problemas seriam ainda maiores: "a disputa é muito mais acirrada; mergulha-se muito mais; pratica-se subpreço", diz.

Para Mendes, as funções de controle externo exercidas pelo Tribunal, muitas vezes trazem à tona divergências com o setor porque a natureza dos interesses defendidos por ambas as partes são opostos. Mas há convergências, como a defesa da agilização da contratação e a segurança na execução do contrato. "Então, vamos atuar junto nessas convergências e levá-las ao Congresso. Estamos sempre de portas abertas ao setor." Confira.


Nesses 12 anos de auditoria de obras do TCU, quais são os maiores e mais recorrentes problemas encontrados?

O problema mais grave é a questão dos projetos, que estão longe, na sua maioria, de atender a lei. A maior parte das licitações, ao longo dos últimos 15 anos, foi feita com anteprojetos, com projetos muito elementares, rudimentares.


E desse problema derivam quais outros?

Alteração de objeto, por exemplo. Licita-se uma coisa e depois a altera no decorrer da obra, acrescentando muitos aditivos. Também há o famigerado "jogo de planilha": ao final da alteração de projeto, começam a surgir itens novos que não estavam previstos na licitação; ou, por uma "coincidência", aqueles itens que estavam "caros" começam a ter aumento de quantitativo, enquanto alguns itens "baratos" são eliminados ou reduzidos, desequilibrando o contrato.


E o TCU, na função de controlador externo, não toma medidas para reduzir o número de projetos insuficientes?

Sistematicamente, tem-se determinado aos órgãos fiscalizados que elaborem ou licitem projetos que sejam adequados à lei. Outra ação é privilegiar a fiscalização o mais cedo possível, de preferência na fase de edital, na fase de licitação da obra.


Mas isso é suficiente? Por que não estabelecer, como regra, auditoria para esses projetos básicos?

O Tribunal não tem estrutura suficiente para fazer o controle prévio de todas as contratações de obra e isso poderia comprometer a administração pública, o andamento, a programação, o planejamento do executivo.


Então, quais são os critérios para estabelecer quais empreendimentos serão auditados?

Por exemplo: critérios de materialidade (de valor de empreendimento), critério de risco e até análise superficial de alguns editais para ver se ali há alguma sinalização de risco que faça com que aquele edital mereça ser fiscalizado desde o início. Muitos dos problemas ocorrem depois do contrato assinado, então, não podemos privilegiar uma fase em detrimento da outra.


Porte de obra é um critério?

Cerca de 90% das obras fiscalizadas pelo Tribunal são obras de grande porte. Mas existem muitos problemas nas pequenas obras. São empresas menores; a disputa é muito mais acirrada; mergulha-se muito mais; pratica-se subpreço. Temos notícias disso em obras menores, licitadas por prefeituras, convênios, para fazer aquela unidadezinha de saúde, aquela escolinha no núcleo rural. São obras de R$ 200 mil. As obras que fiscalizamos são de R$ 300 milhões.


Não é raro que editais sejam lançados concomitantemente ao edital de projeto do mesmo empreendimento...

Sim. Tivemos um caso desses no ano passado, envolvendo o terminal de passageiros e pátios do aeroporto de Guarulhos. Foi lançado o edital da obra e, simultaneamente, o edital de atualização de projeto. A ação típica do Tribunal foi determinar ao órgão que suspendesse aquela licitação da obra até ter o projeto básico adequado conforme a lei.


Como vocês podem evitar esse tipo de coisa?

Quando detectamos, há uma determinação nesse sentido. Determinar significa que o gestor é obrigado a cumprir a determinação sob pena de sofrer sanções, afastamento do cargo e multa. São duas figuras que existem: recomendação e determinação. Na recomendação, o gestor não se sujeita a nenhuma pena se não cumpri-la. A determinação sim. E mais de 90% dos atos do Tribunal são no sentido da determinação.


O TCU trabalha com um BDI padronizado?

Não existe padronização de BDI. Existe um Acórdão do Tribunal, o 325 de 2007, que definiu parâmetros para obras de linhas de transmissão elétrica. Houve um estudo do BDI praticado em várias obras e ali se definiu faixas de BDI para obras de linhas de transmissão.


E esse BDI não é usado para tudo, como se construir linha de transmissão fosse o mesmo que construir saneamento?

Não. Aquele Acórdão é visto como referência para outras obras também, mas como referência, e não como faixas que não possam ser discutidas em cada um dos componentes. Pode haver BDI acima ou abaixo dessa faixa? Pode. Não existe um BDI tabelado. Em geral, o que se espera é que o contratante tenha seus custos no orçamento-base e que tenha um BDI defensável. O BDI tem que ser feito com base num referencial. O acórdão 325, com eventuais ajustes, pode ser esse estudo.


Mas os contratantes usam o Acórdão 325 apenas como referência e consideram, para o cálculo do BDI, as diferenças entre obras de diferentes complexidades e riscos?

Os contratantes podem fazer isso. Se eles fazem ou não... depende. O gestor contratante, que está elaborando o orçamento-base, tem que mostrar o BDI usado e a composição analítica do BDI, dizendo por que ele está usando cada um dos itens. Ao gestor público cabe demonstrar a qualquer momento a boa e regular aplicação de recursos públicos de forma transparente. Se sou o chefe de engenharia ou do setor de orçamento de um órgão e estou fazendo aquilo que vai ser o preço-base de uma licitação, tenho que demonstrar de onde vem o valor de cada item orçado, seja de uma fonte consagrada, ou até mesmo, como se usa complementarmente, os índices da PINI, via composição do TCPO (Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos) ou os preços apresentados aqui nesta revista.


Mas, o que se diz, é que muitos contratantes não têm domínio de como calcular um BDI. Quem são essas pessoas que formulam o BDI? Eles não deveriam ser engenheiros, como prediz o Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia]?

Se estava havendo alguma deturpação nesse sentido, a própria LDO para 2009, no 11.768, trouxe uma correção para isso em sua última edição. No parágrafo 5o do artigo 109, a lei estabelece a obrigação do registro da ART [Anotação de Responsabilidade Técnica] do orçamento básico, bem como a declaração expressa de seu autor de que os quantitativos estão compatíveis com o projeto e os preços unitários.


Sim, está na lei. Mas existe mecanismo para impedir que a lei não seja cumprida?

O agente público que descumpre essa prerrogativa está sujeito a sanções do Tribunal. Se o Tribunal se depara, numa fiscalização, com um orçamento-base absolutamente frágil, ele ouve em audiência o autor desse orçamento-base, essa pessoa está sujeita a sanções e o órgão recebe a indicação de adotar as medidas corretivas.


Há indícios de subdimensionamento do BDI por razões políticas?

Não é do nosso conhecimento. No Acórdão 325 existem critérios e diretrizes, mas é possível usar aquelas diretrizes e chegar a 20% ou 32% [de BDI]. As diretrizes são questões conceituais e não fáticas, assim como o BDI enxuto e a questão do imposto de renda e contribuição fiscal não fazem parte do BDI porque não se trata de uma despesa a ser transferida. Se o órgão está usando 6% de lucro com imposto de renda e contribuição fiscal à parte e, a partir do momento em que ele deixou de botar à parte, ele passou a usar, no BDI, um lucro de 8% ou de 9%, não vejo problema nenhum. A questão do BDI tem uma dimensão absolutamente inexplicável no meio da construção.


De fato, há no setor inúmeras reivindicações quanto à reformulação conceitual de alguns pontos do BDI. O TCU leva em conta essas questões?

Quando a gente fala de percentuais de lucro é que a gente vê muita discordância. Mas na conceituação do BDI, todas as manifestações e artigos recentes vão à mesma direção do primeiro artigo que publicamos sobre BDI e que foi publicado na revista TCU, em 2001. A essência daquele artigo diz que o BDI deve ser efetivamente de lucros e despesas indiretas e que deve ser um BDI enxuto, ou seja, que as despesas diretas da obra, para evitar distorções, no caso de aditivos, devem estar planilhadas e não embutidas no BDI.


Como no caso da administração local?

Exatamente. Antigamente, a praxe era colocar a administração local no BDI e não na planilha. Ora, a administração local tem um determinado custo. Aquele custo pode variar evidentemente se houver um incremento na obra que gere um aumento de prazo com aquela mesma administração. Então, se o valor absoluto for colocado, a administração vai ficar mais cara evidentemente. Mas se for transformada num percentual de BDI, pode não haver aumento de administração local e, no entanto, aquele percentual continuar incidindo no aumento de serviço. E isso é uma distorção. É muito mais transparente e justo para todas as partes que esse custo seja planilhado, até porque a obra pode ter um atraso por conta do contratante. Dessa forma, o contratado, ao manter aquela administração, cuja culpa é do contratante, terá, de forma transparente, um argumento palpável para pedir um aditivo em função daquela prorrogação de prazo.

Fonte: Construção Mercado

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Planejamento na Construção Civil

À medida que se aproxima o fim do século XX, a construção civil vai delineando as formas de um processo produtivo mais adequado para os próximos anos. O aumento da concorrência e a evolução tecnológica pressionam as empresas para que reavaliem seus métodos e sistemas de produção em busca de produtividade e competitividade. No entanto, apesar dos objetivos semelhantes a todos, os meios de alcançá-los não são unânimes. Pelo contrário, muitas são as perspectivas e idéias que surgem no setor para adaptar a produção aos novos tempos, como mostrou o seminário "Planejamento e Controle da Produção para a Construção nos anos 2000", realizado em 12/agosto/99, no Instituto de Engenharia de São Paulo.

Uma das correntes, a lean construction, também conhecida como construção enxuta, direciona suas ações para "enxugar" a obra de todas as atividades que não geram valor, resultando em desperdício de recursos. A proposta é reduzir custos sem necessidade de investimentos, somente através de uma melhor organização do processo, eliminando reservas de mão-de-obra ociosa e otimizando cada recurso disponível. Neste cenário, ganha importância o crescimento da produtividade da equipe, responsável pelo ritmo da obra, em relação ao controle da produtividade individual. Em sua apresentação no seminário, o engenheiro Antônio Sérgio ltri Conti, da Logycal Systems, defendeu um planejamento visando à otimização do desempenho do empreendimento. Para ele, uma melhor alocação de mão-de-obra pode trazer grandes vantagens de custo, já que, em boa parte das obras, não se conhece com exatidão a capacidade de produção de um serviço em determinado período de tempo, gerando alto grau de incerteza que leva à contratação de um estoque de mão-de-obra. Desperdício puro, pois é criada uma reserva de homens na obra para garantir a execução de um trabalho dentro do prazo mesmo que, caso programado de forma adequada, possa ser feito por um número bem menor de operários.

Em linhas gerais, os princípios defendidos pelos arautos da lean construetion mostram uma ligação coerente com a visão do prof. João da Rocha Lima Jr., da Escola Politécnica da USP. Segundo o acadêmico, as decisões estratégicas de uma empresa não devem se sustentar em vender e lucrar, mas em adotar procedimentos capazes de agregar valor à empresa, garantindo desempenho no futuro e a qualificação continuada de seus processos. Assim, a competitividade está no núcleo das empresas, dependendo mais de suas ações estratégicas do que da postura empresarial na arena de competição. Receitas e resultados são parâmetros de referência válidos e esclarecedores para tomadas de decisão. Todavia, o planejamento estratégico deve procurar meios e táticas para manter a empresa capaz de sustentar ou expandir sua participação no mercado, além de conseguir resultados satisfatórios em suas operações futuras.

Embora existam diferenciais significativos entre todas as idéias, a grande maioria converge para fins comuns como estabilizar e garantir o fluxo de trabalho contínuo, ganhando velocidade para obter como resultado o desenvolvimento e o término da obra dentro das projeções de prazo e custo.

Para isso, o planejamento é essencial. Porém, ele nem sempre é feito de maneira coerente e realista, procurando atingir um nível de perfeição que acaba por torná-lo estático e inflexível. Um pouco mais de cuidado com os detalhes nunca é prejudicial, só que o tiro pode sair pela culatra se a dose for exagerada. O excesso de detalhes no planejamento torna mais rápida sua desatualização, dificultando a integração entre os diversos níveis da obra e aumentando a ocorrência de erros na programação dos recursos. Além disso, muitas das dificuldades surgem pelo enorme abismo existente entre quem planeja e o operário que executa o serviço, criando margem para distorções e perda de eficiência.

As principais sugestões para resolver esses problemas apontam para o estabelecimento de um vínculo entre o planejamento e a estratégia competitiva da empresa, considerando custo, tempo, flexibilidade e qualidade. As projeções de cenários econômicos e o conhecimento dos pontos vulneráveis da empresa podem auxiliar na formação de uma base de informações consistente para as tomadas de decisões, antevendo eventuais dificuldades e possibilitando a adoção de mecanismos de defesa. De acordo com Fernando Alvarenga, da Meta Gerencial, o caminho é o desenvolvimento de planos estratégicos, concebidos sob uma perspectiva multidimensional, com um caráter de flexibilidade que confere maior dinamismo diante das incertezas.

Outra providência muito recomendada é evitar polarização entre os setores de planejamento e produção, privilegiando o trabalho em equipe, realizado de forma coordenada. Assim, com um planejamento mais executável e dinâmico, seu gerenciamento consiste em equilibrar e manejar o cotidiano do plano, ajustando os recursos para assegurar o fluxo da obra e cuidando para que o ambiente seja favorável ao cumprimento das metas.

Novas tecnologias de informação são a aposta dos professores Carlos Formoso, do NORIE/UFRGS, e Gassan Aouad, da Universidade de Salford, no Reino Unido, para solucionar os problemas de integração entre as equipes, eliminando distorções de comunicação. Com o avanço da comunicação via Internet, da realidade virtual e modelos visuais em 3D, as construtoras podem optar por ferramentas de informática que ultrapassam o uso tradicional da tecnologia de informação, impulsionando a implantação de sistemas de planejamento e gestão integrados. Até agora, as empresas vêm investindo em informatização da contabilidade, geração de contatos e marketing na Internet, tanto no Brasil quanto no Reino Unido, caminhando em direção oposta à idealizada pelo prof. Aouad. Segundo sua perspectiva, as empresas deveriam visar à integração das informações empresariais, transferência de tecnologia e treinamento, construindo modelos de informação integrados que administram todas as variáveis do processo. Por exemplo, o CAD deve estar ligado aos demais sistemas da empresa, garantindo maior agilidade na troca de informações entre os diversos agentes de um projeto.

O acadêmico britânico identifica um movimento em direção à construção eletrônica, abolindo o papel e as práticas tradicionais de relacionamento entre os agentes. A Internet, aliada a recursos sofisticados de realidade virtual e 3D, pode produzir modelos visuais integrados ao banco de dados da empresa, que fornecem informações detalhadas sobre custos, processos, cronograma de execução em todas as etapas da obra, tudo ao alcance de um simples clique. O sistema seria capaz de processar custos, quantidades de materiais, prazos, área, instantaneamente, no momento em que o projetista desenha. Além disso, a facilidade de comunicação contribui para o surgimento das "equipes virtuais", em que os responsáveis podem desenvolver e gerenciar os projetos de qualquer lugar do planeta. O cliente também teria mais vantagens, pois o avanço das tecnologias de informação tornaria possível um acompanhamento mais próximo e fácil das atividades da obra, do trabalho de projetistas e dos custos, além de abrir uma infinidade de opções de negócio. O aparato eletrônico já está disponível, boa parte ainda precisa de desenvolvimentos e redução de custos, mas a dificuldade maior é criar a mentalidade de compartilhar informações para toda a empresa e para todos os clientes, sem egoísmo.

Mas nem mesmo as novidades tecnológicas podem escapar de um controle estratégico direcionado para a produtividade. A invenção nem sempre é a melhor solução para uma determinada empresa. A adoção de novos procedimentos e técnicas deve considerar tecnologia, pessoas e a cultura da empresa em uma visão de conjunto. Para Frederico Orecchia, da PIC Produtividade, não se podem fazer experiências com tecnologias avançadas. Tudo tem que ser analisado e planejado sob a perspectiva do valor criado para o consumidor final e para o fluxo de produção. Assim, a utilização de uma inovação somente é vantajosa quando esta entra em harmonia com o produto e outros sistemas da obra, levando a desempenho e qualidade superiores sem aumentar o dispêndio de recursos.

Longe de constituir um caminho único, e de até mesmo ter esta pretensão, a lógica do valor começa a ganhar terreno na construção civil como uma forma de alcançar melhores índices de produtividade, que afetem significativamente a competitividade da empresa. A ociosidade e o desperdício são os vícios de um modelo de produção que precisa ser adaptado à nova realidade do mercado. Vícios que precisam ser eliminados sob pena de inviabilizarem o negócio de muitas construtoras. São apenas as primeiras conclusões de um esforço intelectual e empresarial que ainda vai render muitas boas idéias. Bases para a construção de novos paradigmas, cada qual dentro de suas características, rumo a uma nova era.

Revista "Qualidade na Construção" - SindusCon - SP - nº 20 - Ano 3 / 1999.