À medida que se aproxima o fim do século XX, a construção civil vai delineando as formas de um processo produtivo mais adequado para os próximos anos. O aumento da concorrência e a evolução tecnológica pressionam as empresas para que reavaliem seus métodos e sistemas de produção em busca de produtividade e competitividade. No entanto, apesar dos objetivos semelhantes a todos, os meios de alcançá-los não são unânimes. Pelo contrário, muitas são as perspectivas e idéias que surgem no setor para adaptar a produção aos novos tempos, como mostrou o seminário "Planejamento e Controle da Produção para a Construção nos anos 2000", realizado em 12/agosto/99, no Instituto de Engenharia de São Paulo.
Uma das correntes, a lean construction, também conhecida como construção enxuta, direciona suas ações para "enxugar" a obra de todas as atividades que não geram valor, resultando em desperdício de recursos. A proposta é reduzir custos sem necessidade de investimentos, somente através de uma melhor organização do processo, eliminando reservas de mão-de-obra ociosa e otimizando cada recurso disponível. Neste cenário, ganha importância o crescimento da produtividade da equipe, responsável pelo ritmo da obra, em relação ao controle da produtividade individual. Em sua apresentação no seminário, o engenheiro Antônio Sérgio ltri Conti, da Logycal Systems, defendeu um planejamento visando à otimização do desempenho do empreendimento. Para ele, uma melhor alocação de mão-de-obra pode trazer grandes vantagens de custo, já que, em boa parte das obras, não se conhece com exatidão a capacidade de produção de um serviço em determinado período de tempo, gerando alto grau de incerteza que leva à contratação de um estoque de mão-de-obra. Desperdício puro, pois é criada uma reserva de homens na obra para garantir a execução de um trabalho dentro do prazo mesmo que, caso programado de forma adequada, possa ser feito por um número bem menor de operários.
Em linhas gerais, os princípios defendidos pelos arautos da lean construetion mostram uma ligação coerente com a visão do prof. João da Rocha Lima Jr., da Escola Politécnica da USP. Segundo o acadêmico, as decisões estratégicas de uma empresa não devem se sustentar em vender e lucrar, mas em adotar procedimentos capazes de agregar valor à empresa, garantindo desempenho no futuro e a qualificação continuada de seus processos. Assim, a competitividade está no núcleo das empresas, dependendo mais de suas ações estratégicas do que da postura empresarial na arena de competição. Receitas e resultados são parâmetros de referência válidos e esclarecedores para tomadas de decisão. Todavia, o planejamento estratégico deve procurar meios e táticas para manter a empresa capaz de sustentar ou expandir sua participação no mercado, além de conseguir resultados satisfatórios em suas operações futuras.
Embora existam diferenciais significativos entre todas as idéias, a grande maioria converge para fins comuns como estabilizar e garantir o fluxo de trabalho contínuo, ganhando velocidade para obter como resultado o desenvolvimento e o término da obra dentro das projeções de prazo e custo.
Para isso, o planejamento é essencial. Porém, ele nem sempre é feito de maneira coerente e realista, procurando atingir um nível de perfeição que acaba por torná-lo estático e inflexível. Um pouco mais de cuidado com os detalhes nunca é prejudicial, só que o tiro pode sair pela culatra se a dose for exagerada. O excesso de detalhes no planejamento torna mais rápida sua desatualização, dificultando a integração entre os diversos níveis da obra e aumentando a ocorrência de erros na programação dos recursos. Além disso, muitas das dificuldades surgem pelo enorme abismo existente entre quem planeja e o operário que executa o serviço, criando margem para distorções e perda de eficiência.
As principais sugestões para resolver esses problemas apontam para o estabelecimento de um vínculo entre o planejamento e a estratégia competitiva da empresa, considerando custo, tempo, flexibilidade e qualidade. As projeções de cenários econômicos e o conhecimento dos pontos vulneráveis da empresa podem auxiliar na formação de uma base de informações consistente para as tomadas de decisões, antevendo eventuais dificuldades e possibilitando a adoção de mecanismos de defesa. De acordo com Fernando Alvarenga, da Meta Gerencial, o caminho é o desenvolvimento de planos estratégicos, concebidos sob uma perspectiva multidimensional, com um caráter de flexibilidade que confere maior dinamismo diante das incertezas.
Outra providência muito recomendada é evitar polarização entre os setores de planejamento e produção, privilegiando o trabalho em equipe, realizado de forma coordenada. Assim, com um planejamento mais executável e dinâmico, seu gerenciamento consiste em equilibrar e manejar o cotidiano do plano, ajustando os recursos para assegurar o fluxo da obra e cuidando para que o ambiente seja favorável ao cumprimento das metas.
Novas tecnologias de informação são a aposta dos professores Carlos Formoso, do NORIE/UFRGS, e Gassan Aouad, da Universidade de Salford, no Reino Unido, para solucionar os problemas de integração entre as equipes, eliminando distorções de comunicação. Com o avanço da comunicação via Internet, da realidade virtual e modelos visuais em 3D, as construtoras podem optar por ferramentas de informática que ultrapassam o uso tradicional da tecnologia de informação, impulsionando a implantação de sistemas de planejamento e gestão integrados. Até agora, as empresas vêm investindo em informatização da contabilidade, geração de contatos e marketing na Internet, tanto no Brasil quanto no Reino Unido, caminhando em direção oposta à idealizada pelo prof. Aouad. Segundo sua perspectiva, as empresas deveriam visar à integração das informações empresariais, transferência de tecnologia e treinamento, construindo modelos de informação integrados que administram todas as variáveis do processo. Por exemplo, o CAD deve estar ligado aos demais sistemas da empresa, garantindo maior agilidade na troca de informações entre os diversos agentes de um projeto.
O acadêmico britânico identifica um movimento em direção à construção eletrônica, abolindo o papel e as práticas tradicionais de relacionamento entre os agentes. A Internet, aliada a recursos sofisticados de realidade virtual e 3D, pode produzir modelos visuais integrados ao banco de dados da empresa, que fornecem informações detalhadas sobre custos, processos, cronograma de execução em todas as etapas da obra, tudo ao alcance de um simples clique. O sistema seria capaz de processar custos, quantidades de materiais, prazos, área, instantaneamente, no momento em que o projetista desenha. Além disso, a facilidade de comunicação contribui para o surgimento das "equipes virtuais", em que os responsáveis podem desenvolver e gerenciar os projetos de qualquer lugar do planeta. O cliente também teria mais vantagens, pois o avanço das tecnologias de informação tornaria possível um acompanhamento mais próximo e fácil das atividades da obra, do trabalho de projetistas e dos custos, além de abrir uma infinidade de opções de negócio. O aparato eletrônico já está disponível, boa parte ainda precisa de desenvolvimentos e redução de custos, mas a dificuldade maior é criar a mentalidade de compartilhar informações para toda a empresa e para todos os clientes, sem egoísmo.
Mas nem mesmo as novidades tecnológicas podem escapar de um controle estratégico direcionado para a produtividade. A invenção nem sempre é a melhor solução para uma determinada empresa. A adoção de novos procedimentos e técnicas deve considerar tecnologia, pessoas e a cultura da empresa em uma visão de conjunto. Para Frederico Orecchia, da PIC Produtividade, não se podem fazer experiências com tecnologias avançadas. Tudo tem que ser analisado e planejado sob a perspectiva do valor criado para o consumidor final e para o fluxo de produção. Assim, a utilização de uma inovação somente é vantajosa quando esta entra em harmonia com o produto e outros sistemas da obra, levando a desempenho e qualidade superiores sem aumentar o dispêndio de recursos.
Longe de constituir um caminho único, e de até mesmo ter esta pretensão, a lógica do valor começa a ganhar terreno na construção civil como uma forma de alcançar melhores índices de produtividade, que afetem significativamente a competitividade da empresa. A ociosidade e o desperdício são os vícios de um modelo de produção que precisa ser adaptado à nova realidade do mercado. Vícios que precisam ser eliminados sob pena de inviabilizarem o negócio de muitas construtoras. São apenas as primeiras conclusões de um esforço intelectual e empresarial que ainda vai render muitas boas idéias. Bases para a construção de novos paradigmas, cada qual dentro de suas características, rumo a uma nova era.
Revista "Qualidade na Construção" - SindusCon - SP - nº 20 - Ano 3 / 1999.
Em linhas gerais, os princípios defendidos pelos arautos da lean construetion mostram uma ligação coerente com a visão do prof. João da Rocha Lima Jr., da Escola Politécnica da USP. Segundo o acadêmico, as decisões estratégicas de uma empresa não devem se sustentar em vender e lucrar, mas em adotar procedimentos capazes de agregar valor à empresa, garantindo desempenho no futuro e a qualificação continuada de seus processos. Assim, a competitividade está no núcleo das empresas, dependendo mais de suas ações estratégicas do que da postura empresarial na arena de competição. Receitas e resultados são parâmetros de referência válidos e esclarecedores para tomadas de decisão. Todavia, o planejamento estratégico deve procurar meios e táticas para manter a empresa capaz de sustentar ou expandir sua participação no mercado, além de conseguir resultados satisfatórios em suas operações futuras.
Embora existam diferenciais significativos entre todas as idéias, a grande maioria converge para fins comuns como estabilizar e garantir o fluxo de trabalho contínuo, ganhando velocidade para obter como resultado o desenvolvimento e o término da obra dentro das projeções de prazo e custo.
Para isso, o planejamento é essencial. Porém, ele nem sempre é feito de maneira coerente e realista, procurando atingir um nível de perfeição que acaba por torná-lo estático e inflexível. Um pouco mais de cuidado com os detalhes nunca é prejudicial, só que o tiro pode sair pela culatra se a dose for exagerada. O excesso de detalhes no planejamento torna mais rápida sua desatualização, dificultando a integração entre os diversos níveis da obra e aumentando a ocorrência de erros na programação dos recursos. Além disso, muitas das dificuldades surgem pelo enorme abismo existente entre quem planeja e o operário que executa o serviço, criando margem para distorções e perda de eficiência.
As principais sugestões para resolver esses problemas apontam para o estabelecimento de um vínculo entre o planejamento e a estratégia competitiva da empresa, considerando custo, tempo, flexibilidade e qualidade. As projeções de cenários econômicos e o conhecimento dos pontos vulneráveis da empresa podem auxiliar na formação de uma base de informações consistente para as tomadas de decisões, antevendo eventuais dificuldades e possibilitando a adoção de mecanismos de defesa. De acordo com Fernando Alvarenga, da Meta Gerencial, o caminho é o desenvolvimento de planos estratégicos, concebidos sob uma perspectiva multidimensional, com um caráter de flexibilidade que confere maior dinamismo diante das incertezas.
Outra providência muito recomendada é evitar polarização entre os setores de planejamento e produção, privilegiando o trabalho em equipe, realizado de forma coordenada. Assim, com um planejamento mais executável e dinâmico, seu gerenciamento consiste em equilibrar e manejar o cotidiano do plano, ajustando os recursos para assegurar o fluxo da obra e cuidando para que o ambiente seja favorável ao cumprimento das metas.
Novas tecnologias de informação são a aposta dos professores Carlos Formoso, do NORIE/UFRGS, e Gassan Aouad, da Universidade de Salford, no Reino Unido, para solucionar os problemas de integração entre as equipes, eliminando distorções de comunicação. Com o avanço da comunicação via Internet, da realidade virtual e modelos visuais em 3D, as construtoras podem optar por ferramentas de informática que ultrapassam o uso tradicional da tecnologia de informação, impulsionando a implantação de sistemas de planejamento e gestão integrados. Até agora, as empresas vêm investindo em informatização da contabilidade, geração de contatos e marketing na Internet, tanto no Brasil quanto no Reino Unido, caminhando em direção oposta à idealizada pelo prof. Aouad. Segundo sua perspectiva, as empresas deveriam visar à integração das informações empresariais, transferência de tecnologia e treinamento, construindo modelos de informação integrados que administram todas as variáveis do processo. Por exemplo, o CAD deve estar ligado aos demais sistemas da empresa, garantindo maior agilidade na troca de informações entre os diversos agentes de um projeto.
O acadêmico britânico identifica um movimento em direção à construção eletrônica, abolindo o papel e as práticas tradicionais de relacionamento entre os agentes. A Internet, aliada a recursos sofisticados de realidade virtual e 3D, pode produzir modelos visuais integrados ao banco de dados da empresa, que fornecem informações detalhadas sobre custos, processos, cronograma de execução em todas as etapas da obra, tudo ao alcance de um simples clique. O sistema seria capaz de processar custos, quantidades de materiais, prazos, área, instantaneamente, no momento em que o projetista desenha. Além disso, a facilidade de comunicação contribui para o surgimento das "equipes virtuais", em que os responsáveis podem desenvolver e gerenciar os projetos de qualquer lugar do planeta. O cliente também teria mais vantagens, pois o avanço das tecnologias de informação tornaria possível um acompanhamento mais próximo e fácil das atividades da obra, do trabalho de projetistas e dos custos, além de abrir uma infinidade de opções de negócio. O aparato eletrônico já está disponível, boa parte ainda precisa de desenvolvimentos e redução de custos, mas a dificuldade maior é criar a mentalidade de compartilhar informações para toda a empresa e para todos os clientes, sem egoísmo.
Mas nem mesmo as novidades tecnológicas podem escapar de um controle estratégico direcionado para a produtividade. A invenção nem sempre é a melhor solução para uma determinada empresa. A adoção de novos procedimentos e técnicas deve considerar tecnologia, pessoas e a cultura da empresa em uma visão de conjunto. Para Frederico Orecchia, da PIC Produtividade, não se podem fazer experiências com tecnologias avançadas. Tudo tem que ser analisado e planejado sob a perspectiva do valor criado para o consumidor final e para o fluxo de produção. Assim, a utilização de uma inovação somente é vantajosa quando esta entra em harmonia com o produto e outros sistemas da obra, levando a desempenho e qualidade superiores sem aumentar o dispêndio de recursos.
Longe de constituir um caminho único, e de até mesmo ter esta pretensão, a lógica do valor começa a ganhar terreno na construção civil como uma forma de alcançar melhores índices de produtividade, que afetem significativamente a competitividade da empresa. A ociosidade e o desperdício são os vícios de um modelo de produção que precisa ser adaptado à nova realidade do mercado. Vícios que precisam ser eliminados sob pena de inviabilizarem o negócio de muitas construtoras. São apenas as primeiras conclusões de um esforço intelectual e empresarial que ainda vai render muitas boas idéias. Bases para a construção de novos paradigmas, cada qual dentro de suas características, rumo a uma nova era.
Revista "Qualidade na Construção" - SindusCon - SP - nº 20 - Ano 3 / 1999.
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