quarta-feira, 17 de junho de 2009

Entrevista - Setor Hoteleiro

Setor hoteleiro deve investir R$ 5 bilhões nos próximos três anos. Construtoras especializadas têm a preferência

"De acordo com a BSH Internacional, uma consultoria especializada no assunto, são 56 novos mpreendimentos previstos para o ano de 2006"

A hotelaria no Brasil está em crescimento. O parque hoteleiro nacional possui hoje 25.500 meios de hospedagem, sendo que parte desse universo - 18 mil - são hotéis, resorts e pousadas. O setor movimenta valores superiores a R$ 20 bilhões/ano e gera 500 mil empregos diretos e 1.200 milhão indiretos. No geral, são 70% de empreendimentos de pequeno porte, predominando a hotelaria independente. Esta representa 89% do mercado hoteleiro e lidera em número de novos investimentos.

Segundo estudo setorial A Indústria Hoteleira no Brasil - Análise Setorial do Segmento de Hospedagem, edição 2006, para os próximos três anos estão previstos investimentos da ordem de R$ 4,8 bilhões. Soma-se este valor ao montante que será utilizado para a renovação de unidades já existentes e o investimento ultrapassará R$ 5 bilhões. Para discutir o assunto, a revista Construção Mercado falou com Eraldo Alves da Cruz, presidente da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis).

Eraldo tem 29 anos de experiência no ramo de hotelaria, esteve à frente de entidades como o Conselho Nacional de Turismo, a Confederação Nacional do Comércio e o Conselho de Turismo do Governo do Distrito Federal. Também é diretor vice-presidente do Eron Brasília Hotel.

Quantos projetos de hotéis estão previstos para 2006? Onde estão concentrados?

O setor é bastante promissor, o crescimento é da ordem de 15 a 20% ao ano. São mais de 170 empreendimentos em construção no País, sendo que a maioria abrange o nicho de resorts ou hotéis econômicos. De acordo com a BSH Internacional, uma consultoria especializada no assunto, são 56 novos empreendimentos previstos para o ano de 2006, sendo que a maioria - 29 deles - está concentrada no Sudeste. Os outros empreendimentos estão distribuídos no Nordeste (10), Centro-Oeste (7), no Norte (5) e outros 5 na região Sul. No momento, o interior do Estado de São Paulo é o grande filão no mercado de construção de hotéis.

Esses projetos vão integrar quais categorias?

Os projetos são diversos e contemplam toda ordem de categoria, como resorts, hotéis econômicos e de categorias que equivalem a três, quatro e cinco estrelas, dependendo muito da região em que estão sendo construídos. Com relação aos resorts, por exemplo, o Nordeste lidera a preferência. Quanto à hotelaria econômica, temos um forte movimento em direção às capitais, como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte e um incremento forte em direção às cidades do interior, em especial o interior do Estado de São Paulo. Em geral, na região Sudeste predominam hotéis econômicos de duas e três estrelas, sendo que alguns são diferenciados chegando a quatro e cinco estrelas.


Investimento reservado
Na construção, qual a tendência dos novos hotéis brasileiros?


A tendência das construções, assim como a categoria escolhida, depende da região onde estão sendo realizadas as construções. A região tem influência direta na tendência de novos hotéis em razão da acessibilidade aos materiais de construção e, conseqüentemente, do preço do frete. Mas a procura recai sobre as construções mais leves que, em função do material utilizado, possam ser feitas em menor prazo de tempo.

Os hotéis precisam entrar em operação rapidamente. Existe uma preferência por sistemas pré-fabricados?

O pré-fabricado tem suas vantagens, mas apenas nos projetos seqüenciais de redes hoteleiras como, por exemplo, as marcas Formule 1 e Íbis, ambas da rede francesa Accor. A utilização do pré-fabricado nesses projetos está vinculada a construções mais leves e em regiões de fácil acessibilidade.

E quanto aos hotéis em alvenaria convencional e construção metálica? Essas duas modalidades podem, também, ser consideradas tendências na construção hoteleira?

A alvenaria tradicional é predominante na maior parte das construções, em razão dos custos locais e, também, porque gera flexibilidade no cronograma final de uma construção. Pode-se dizer que, hoje, o que melhor atende às necessidades do segmento de hotéis é a construção metálica, com paredes de gesso. Trata-se de uma construção leve, rápida, além de durável e segura. Pré-fabricados, alvenaria ou metálicos, temos hotéis para todos os gostos, tudo depende da área em que estão sendo construídos. O Nordeste, por exemplo, pede uma estrutura mais leve. No Sudeste, algo mais condensado. Mas o que prevalece de agora em diante são as construções que permitam obter um custo-benefício altamente compensador, o que se observa na categoria de hotéis três estrelas.

Quais tipos de construtoras trabalham com obras de hotéis? Elas precisam ser especializadas no setor?

Para a construção de hotéis de quatro e cinco estrelas é recomendável a contratação de construtoras especializadas, como a Método ou a Setin. Para os hotéis de uma a três estrelas é possível a utilização de construtoras de menor porte, mas que possam comprovar a qualidade de acabamento. A obra, em si, não possui segredo. O segredo está em se contratar um excelente arquiteto que acompanhe todo o processo de construção. Esse profissional deve entender muito bem de hotelaria.

A demanda hoteleira no Brasil é superior à oferta? Em que regiões?

Sim, em especial nas seguintes capitais: São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Recife. Nas outras capitais a demanda e a oferta hoteleira se equilibram. Existem raras exceções, que superam as expectativas, é o caso de Salvador, Fortaleza e Natal.

E a hotelaria de negócios, como é a demanda?

Podemos definir que a demanda da hotelaria de negócios e turismo corporativo representa o grande filão do mercado. Muitas vezes representa o principal mercado e tem expressivo valor na distribuição da ocupação do hotel.

Sabemos que São Paulo recebe cerca de 76% de todas as feiras e exposições de produtos industriais, comerciais e de serviços, além de congressos científicos, convenções empresariais, entre outros eventos. Há demanda fora do eixo Rio-São Paulo?

Sem dúvida, São Paulo é o grande gerador de público do setor hoteleiro. Mas, há também um público significativo fora do eixo Rio-São Paulo. Público que está concentrado em todas as capitais do País.

Em que regiões do Brasil verifica-se um aumento na construção de hotéis?

No Nordeste brasileiro, na Amazônia, no interior do Estado de São Paulo e nos litorais de um modo geral.

A construção hoteleira está praticamente industrializada: pré-moldados de concreto ou estruturas metálicas

Como estão os financiamentos para construção de hotéis? E os investimentos no setor?

Os financiamentos não são atrativos, mesmo com os juros mais baixos. A conta custo-benefício não fecha. Quando se quer construir um hotel é necessário capital próprio, complementando-se o montante com financiamento parcial. O financiamento total da obra é loucura, porque não se obtém retorno. Mas o panorama no setor é otimista, já que o crescimento do parque hoteleiro nacional foi de 2,74% em 2005. Um estudo setorial chamado A Indústria Hoteleira no Brasil - Análise Setorial do Segmento de Hospedagem, edição 2006, garante que nos próximos três anos a industria hoteleira do Brasil vai receber investimentos da ordem de R$ 4,8 bilhões. Este valor, somado ao valor destinado à renovação de unidades já existentes, ultrapassará R$ 5 bilhões. Este é o maior valor de investimentos em hotelaria que se tem notícia desde o boom imobiliário ocorrido nos anos 90.

Quais as principais fontes de financiamento?

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Banco do Nordeste do Brasil, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. O BNDES, o BNB e mais recentemente a Caixa Econômica atuam na linha de financiamentos acessíveis.

Há programas estaduais ou federais de incentivo à construção de hotéis?

Com exceção dos financiamentos já citados, não existem programas específicos. Alguns Estados facilitam a construção por outras vias, como, por exemplo, por intermédio de benefícios em infra-estrutura, isenções de impostos ou em facilidades para a aquisição de terrenos. É o caso de Estados como Bahia, Sergipe, Ceará e Rio Grande do Norte.

Como está a infra-estrutura em áreas mais afastadas? Havia uma queixa, por parte de turistas, de falta de acesso em algumas regiões, em especial do Nordeste.

O que alavancou o turismo na Bahia, por exemplo, foi exatamente a criação de infra-estrutura adequada. O Prodetur (Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste) foi concebido para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da atividade turística na região Nordeste. E tem obtido êxito.


A Abih tem planos para sanar problemas de transporte, saneamento, entre outros itens da infra-estrutura em áreas específicas?

A entidade pode cobrar e se mobilizar para sanar problemas existentes, mas a realização de planos e um maior volume de investimento público dirigido à infra-estrutura hoteleira pertencem ao governo. Os Estados que se beneficiaram do Prodetur I e II, por exemplo, não têm apresentado problemas graves de infra-estrutura voltada ao setor hoteleiro.

Quantos hotéis existem no País? Quanto movimenta o setor?

A hotelaria no Brasil encontra-se em processo de crescimento. O setor hoje disponibiliza 18 mil hotéis, resorts, pousadas e outros 7.500 meios de hospedagem (incluindo motéis, flats, pensões, clubes, albergues, entre outros), perfazendo um total de 25.500 meios de hospedagem. O setor movimenta valores superiores a R$ 20 bilhões/ano e gera 500 mil empregos diretos e 1.200 milhão indiretos.

Qual potencial de crescimento ao ano?

O potencial de crescimento gira em torno de 8 a 10% para hotelaria como um todo e de 15 a 20% nos hotéis de rede com bandeiras fortes e suporte de financiadores.

Apesar do crescimento significativo, quais os pontos fracos da hotelaria no Brasil?

A ocupação é baixa, girando em torno de 50 e 55% durante o ano, sendo que o ideal seria uma média de 65 a 70%. Outro problema enfrentado pelo setor é o custo médio das diárias, muito baixo em função de descontos excessivos, gerados pela superoferta. A diária baixa não acompanha os custos fixos dos hotéis.

A tendência no ramo hoteleiro é a predominância de grandes redes?

O que predomina no Brasil ainda é a hotelaria independente. Ela é forte e representa mais de 89% do mercado, liderando também em número de novos investimentos. A tendência é que as grandes redes ocupem, nos próximos dez anos, uma parcela de 15 a 20% do mercado hoteleiro. Mas as independentes sempre serão líderes, porque somos um País continente e a hotelaria independente prolifera, ainda que abram e fechem hotéis e pousadas em determinadas regiões.

Quantas redes estão no Brasil e quantas devem chegar?

Segundo o estudo Raio X da Hotelaria Brasileira são 127 redes. Aos poucos, muitas outras redes virão, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos. A terceira versão desse estudo, que será lançado em junho próximo, aponta a chegada de redes portuguesas. Ainda este ano várias delas aportam no País, em especial no Nordeste. Entre elas estão a Enotel, a Reta Atlântico e o grupo Wondertur.


Reportagem de Tania Fernandes
Fonte: Construção Mercado

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