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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Alvenaria estrutural - Parte I

Cada vez mais distante do preconceito que a associava apenas às construções populares, a alvenaria estrutural ganha espaço nos canteiros de obras brasileiros.
A volta da classe C ao mercado consumidor de imóveis e o empenho da engenharia nacional estão alavancando um sistema construtivo que parecia fadado aos conjuntos habitacionais populares. A alvenaria estrutural caiu, por fim, no gosto do meio técnico brasileiro, atraído pela redução de custos de até 30% proporcionado pelo sistema. A possibilidade de construir edifícios altos com apartamentos amplos – um edifício na zona leste de São Paulo já alcançou a marca dos 24 pavimentos e outros dois no Morumbi, zona sul, estão sendo construídos com até quatro dormitórios – tem enterrado alguns velhos preconceitos.

Construção em alvenaria estrutural com blocos de concreto

O antigo chavão de que um edifício construído com alvenaria estrutural não pode possuir hall de entrada, salão de festas ou subsolos não se sustenta mais. Na zona oeste de São Paulo, a construtora JHS está construindo um prédio residencial de 18 pavimentos-tipo e cobertura, térreo com 6 m de pé-direito e dois subsolos. A solução para viabilizar a alvenaria estrutural foi simples: executar uma laje de transição de concreto no primeiro pavimento, capaz de absorver as cargas das paredes portantes e distribuí-las por pilares até as fundações. Em resumo: do primeiro andar para baixo, trata-se de uma obra “normal”; a alvenaria estrutural sobe apenas a partir da laje de transição.

Uma das características interessantes do edifício de 11,6 mil m2 de área construída, cuja entrega está prevista para fevereiro de 99, são os esforços de vento absorvidos pelas paredes portantes. “A influência do vento na estrutura é quase igual à da carga vertical, por causa da altura e esbeltez do prédio”, explica o calculista responsável pelo projeto, César Pereira Lopes. O índice de esbeltez do edifício, que terá dez apartamentos de 42 m2 por andar, é 1:7. Ou seja, a largura do prédio será sete vezes menor que a altura total.

Economia

Uma das medidas de economia tomadas pela JHS para viabilizar o empreendimento foi empregar blocos de concreto com diversas resistências à compressão, de acordo com a faixa de andar executada. Da primeira fiada até o quinto pavimento, foram especificados blocos de 14 MPa. A resistência dos blocos cai à medida que sobem os andares, culminando com 6 MPa entre o 15o pavimento e a cobertura. “Não é preciso usar o mesmo tipo de bloco em todo o edifício”, afirma Carlos Alberto Tauil, gerente técnico comercial da Glasser, fabricante paulista que está fornecendo os blocos de concreto para a obra.

Solução muito semelhante foi dada pelo engenheiro calculista Wagner de Carvalho a duas torres, também de 18 andares, em Campinas-SP. Nessa obra, a Construtora Guidotti, de Piracicaba-SP, também adota a laje de transição sobre dois subsolos e o térreo, a partir do qual a alvenaria sobe com blocos de diferentes resistências à compressão: parte de 12 MPa entre o térreo e o sexto andar, reduzindo 2 MPa a cada lance de três pavimentos; os três últimos têm blocos de 4,5 MPa, todos eles fornecidos pela Tatu, de Limeira- P. A obra incorpora ainda outras medidas de racionalização, como sacadas, escadas e lajes, todas pré-moldadas no canteiro e içadas por grua.

Destinada ao consumidor de classe média alta, a obra de Campinas – com piscina, sauna e quadras esportivas – reforça a tese de que a alvenaria estrutural vem se “assentando” em imóveis mais nobres. O engenheiro Rogério Durante, do Departamento Técnico da Tatu, confirma a demanda crescente. Segundo ele, 60% da produção de blocos da empresa são estruturais.

Há casos, porém, em que a economia cede lugar à plena garantia de segurança, quando há o risco de uma eventual troca de blocos na obra. É o caso de um edifício residencial de 17 andares que está sendo erguido em São Bernardo do Campo-SP. Como existem outros prédios da Construtora Apolo em execução no terreno e os paletes são recebidos no mesmo local, a probabilidade de um operário utilizar o bloco errado aumenta muito. Por esse motivo, a construtora optou por blocos de concreto de 14 MPa para toda a edificação, que terá quatro apartamentos de 145 m2 por andar. Projetado pelo calculista José Luís Pereira, o prédio deve ser entregue em junho.

É importante salientar que a utilização de blocos com diferentes resistências é apenas uma entre várias formas de economizar com a alvenaria estrutural. Os maiores ganhos do sistema estão relacionados com a racionalização oferecida ao construtor. Se a obra empregar, por exemplo, pré-moldados de concreto (lajes, escadas e vergas) em composição com a alvenaria, a madeira e os carpinteiros podem ser dispensados do canteiro. Como os blocos vazados permitem a passagem das tubulações elétricas e hidráulicas, também não há necessidade de quebrar paredes. A somatória disso termina em redução de desperdício e economia no uso de fôrmas e concreto.

Prédio em alvenaria estrutural

Sem armadura

As opções, porém, não se limitam às paredes portantes “recheadas” de graute e ferragem. Apesar de possuir alguns críticos, a alvenaria não-armada (que contém somente armadura de amarração, desconsiderada na absorção dos esforços) vem demonstrando um bom potencial técnico e econômico. Prova disso é um prédio de oito pavimentos da RAS que está em fase final de construção no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Com térreo e subsolo, o edifício possui uma laje de transição no primeiro pavimento e emprega blocos de silicocalcário de 10 MPa.

“O controle em uma obra de alvenaria não-armada é mais fácil”, afirma o calculista Caio Frascino Cassaro, da Program Engenharia, que projetou o prédio. Como não se utiliza graute ou armadura nos blocos, a atenção praticamente se resume à qualidade da argamassa e ao prumo da alvenaria. O sistema, no entanto, é mais limitado. Nesse tipo de obra não são permitidas tensões de tração, que exigiriam armadura. Prédios muito altos, sujeitos a forte ação do vento, são, portanto, inexeqüíveis.

Revista Téchne 34 – mai/jun – 1998. P.26-31

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